O vendedor de poesias

Praia de Iracema. Foto: AUTOR.
   Praia de Iracema. Eram quase 18:00 horas. Muitos aproveitam o espigão no aterro da praia e observam o pôr-do-sol. Outros vão na orla para patinar no calçadão. Alguns treinam nado ou praticam esportes na praia. É comum ver pessoas de todos os lugares do Brasil de do mundo fazendo caminhada. Para muitos, um dia comum. Mas, não para o vendedor de poesias.
    De fato, ele não se sustentava com poesias. É difícil aqui alguém viver exclusivamente através da arte. E há pelo menos dois motivos. Primeiro, muitos não tem formação cultural e educacional (por falha do ensino ou mental mesmo), dando pouco valor à literatura e à arte. Segundo, os meios de comunicação, como a internet e a TV, tem tornada as pessoas menos pacientes, queremos tudo muito rápido, como se não houvesse tempo nem para refletir. Mas, para se entreter com poesias, é necessário degustar, por assim dizer, as palavras e sentir os sabores. Logo, é necessário tempo. Todavia, tempo é dinheiro. Muitos acham que arte é dinheiro desperdiçado.
   Assim, o vendedor de poesias trabalha durante o dia em um restaurante. De fato, ele era um garçom. Não um garçom qualquer, mas sim um garçom-poeta. E onde vender a sua arte? É necessário um local com gente movimentada, sem pressa e receptiva. No restaurante que trabalha é que não era. Além do pouco movimento, as pessoas iam com a finalidade de comer. Se vendesse lá, suas obras possivelmente se tornariam guardanapos.
   Ele notou então que a orla da cidade era o melhor ambiente. Então, depois do expediente do trabalho, ele pegava um ônibus para o Aterro da Praia de Iracema. Percorria quilômetros a procura de leitores. Ele insistia em acreditar que haviam pessoas interessadas em poesias (acredito que estão em extinção). Ele sonhava que um dia escreveria uma livro, estava juntando dinheiro para isso. Quem sabe não dê certo?
    Bem, hoje ele consegui apurar uns 40 reais. Não foi muito, mas dava para o gasto. Ele dizia que o que importa é que suas obras fossem difundidas através daqueles leitores. Para ele, não eram necessários muitos compradores, mas que os que comprassem fossem aqueles que continuariam lendo, procurando ele novamente por mais leituras.
    Agora é hora de ir para casa. Pega o ônibus, ainda deu tempo para uma rápida olhada para o mar e sonhava. Mas, acordava para a realidade. Tinha que pagar a passagem. Além disso, ainda ia fazer compras para sua família. Esperava dormir cedo, pois amanhã tinha que acordar cedo, como sempre, para ir ao serviço. Antes de dormir, ainda ia escrever um novo texto para vender amanhã.

Alexandre Valério Ferreira





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