Janelas e seus Ângulos
Era uma vez um universitário, uma enfermeira e uma senhora idosa. Num daqueles dias quaisquer, nublado e sem nada especial, eles decidiram visitar uma cidade. Mas, após andar pelo local por horas, eles se perderam. Nenhum deles sabia o percurso para o terminal de ônibus, afinal, eram turistas.
Iniciaram um pequena discussão sobre que rumo tomar. Ele era "afoito" e impulsivo. A enfermeira era bastante racional, enquanto que a senhora idosa, sua tia-avó, estava cansada e com fome. Ao mesmo tempo, diversas janelas observavam o acontecimento. Eles eram um pouco barulhentos (desculpem, errei, eles eram muito barulhentos). Eu diria até que era até engraçada a cena. Porém, a ilusão de óptica pode confundir a gente. Diz-se que a ação de enxergar é uma soma do que os olhos vêem com a forma como nossa mente analisa essa impressão visual. Talvez seja verdade mesmo.
Janela 1
Uma senhora de 45 anos vê esse grupo e logo pensa: "Deve ser discussão de família. Pela cara da idosa, sua filha deve ter engravidado daquele rapaz. É triste... Essas mulheres de hoje não se dão valor. Nam... Ainda assim querem respeito. Sei não, viu?"
Janela 2
Um jovem de 20 anos comenta: "Pelo visto, aquele rapaz destruiu aquela família. Engravidou a moça. Tenho vergonha da minha raça, a dos homens, geralmente são a maioria dos criminosos. Pobre garota, vai ser mãe solteira e desempregada. O filho será sem futuro, marginalizado da sociedade. Não quero ser assim como esse cara não. Vou cuidar muito bem da minha família..."
Janela 3
Duas garotas, que estavam na loja sem fazer nada além de acessar as redes sociais, viram a confusão. Estavam ansiosas por uma briga. Um dizia: "Tomara que vire barraco. Já estou cansada de tanto clicar F5 na minha página e nada de novidades...Quero confusão!!!"
Janela 4
Um homem bem arrumado e de expressões sérias olha a cena e imagina: "Pobre é osso, viu? Nam! Nunca fui e nem quero saber como é ser pobre... Quero é distância dessa raça de gente..."
Janela 5
Uma garotinha, 5 anos, olhos claros e cabelos morenos, observa a cena e nota o vestido da enfermeira (que na ocasião estava informal, mas bem elegante, como sempre). Ela imagina no dia em que será adulta, independente, tomando suas próprias decisões. "Meu sonho é ser enfermeira".
Janela 6
Todos estavam ocupados, bem atarefados. Um ou dois chegaram a dar uma leve olhada no grupo lá embaixo, mas sem tempo para pensar sobre o que poderia ser, prosseguiram em suas atividades.
Janela 7
Um sabiá, a procura de comida, observa a quantidade de pedacinhos de biscoito que caiam daquela senhora, que insistia em tentar comê-los, apesar da dentadura frouxa. Ele prepara-se para qualquer instante sobrevoar a eles e arriscar uma beliscada nos restos no chão.
O grupo então, depois da discussão inútil e devido a ausência de créditos para usar a internet 3G (não tinha como acessar nenhum mapa online...), decide então perguntar a uma vendedora ambulante, que vendia biscoitos ali do lado, sobre como chegar no bendito terminal. "É fácil", disse ela, "só dobrar na próxima esquina a direita".
Alexandre Valério Ferreira
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