A casa do açude

Barragem do Açude Sítios Novos, Ceará. Fonte: Autor.
    O açude é o mar do sertão. No meio do nada, entre morros e montanhas, em um vale esquecido, constrói-se uma represa e forma-se o lago artificial. "E o sertão vira mar". O cenário depois da construção dele mudou nossa rotina. As águas novas não trouxeram só alegrias, mas também levaram famílias embora como uma enxurrada. Não podiam mais viver lá. Era um sacrifício necessário (para quem?). Era preciso ter água para os momentos difíceis (para quem?).

Açude Sítios Novos. Fonte: Autor.
    Minha casa ficava bem do lado da represa. Na parede do açude havia uma estrada que permitia a passagem de carro. A região ao redor do açude é sempre verde. Acho incrível como algo que é incolor, inodoro (sem cheiro) e insípido (sem gosto) trás muito mais vida do que qualquer outro líquido na face da Terra. Algo tão simples, mas tão poderoso é a água. Talvez vire motivo de guerra um dia. Quem sabe?

Quixeramobim, Ceará. Fonte da foto: http://www.baixaki.com.br/usuarios/imagens/wpapers/948648-171682-1280.jpg

    A casa era excelente. Tinha uma brisa maravilhosa. A vista é incomparável: de um lado, um vale verde e a cidade a alguns quilômetros; do outro lado, um oceano de água. Água atrai muitas cores: o verde das árvores, o azul do céu e o branco cintilante da lua cheia.  Morar ali não tinha preço. Todas as manhãs e tardinhas éramos presenteados com uma infinidade de cores. Cada dia o sol fazia uma obra de arte única, de incomparável beleza, mas temporário. Até parece que cada dia o sol procurasse aprimorar essa obra de arte magnífica, que é a maravilha do pôr-do-sol. Uma das criações mais lindas!

Açude Epitácio Pessoa, Paraíba. Fonte da foto: http://meme.zenfs.com/leniom/9d201f72c62772a5602a11c789a791e9dac57f0c.jpeg

    A água doce de doce não tinha nada, mas o peixe era uma delícia. Aprendi a pescar com meu avô, mas nunca me tornei tão hábil como ele. Ele sempre diz que eu só sou bom para estudar, mas quanto ao resto, sou um fracasso. Realmente, não sou dos melhores em atividades manuais, não por orgulho, mas por ser desastrado mesmo. Todos os dias, aproveito para contemplar o nascimento e o pôr-do-sol. Fico horas pensando na vida. 

Açude Umari. Fonte da foto: http://viajamos.com.br/photo/por-do-sol-no-acude-umari?context=user
   Lembro das imagens da TV. Nem se compara com a vida real. As imagens da TV só eram cópias de má qualidade, que nem de longe refletia a alegria e paz que vinha de se passar alguns minutos apenas olhando, contemplando, o movimento do sol e os desenhos feitos pelos raios luminosos nas nuvens. Uma vez pensei em morar na cidade e vê o mundo pela TV ou computador, mas o açude não deixou. Modernidade tem preço, o pôr-do-sol, não.

Alexandre Valério Ferreira



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