O cobrador de ônibus: passageiros

Cobrador de ônibus. Foto: http://arturcut.files.wordpress.com/2011/06/sem_cobrador1.jpg
   Ser cobrador de ônibus é uma atividade complicada. A primeira dificuldade que enfrentei foi ter que me sentar de lado, ou seja, perpendicularmente ao movimento do ônibus. Não sei como não vomitei. Mas, agora já estou acostumado. A gente se acostuma com tudo (ou quase tudo). Também tive que aprender a lidar com os passageiros. Ainda estou tentando...
    Nós vemos todos os tipos de pessoas. Estressados, lesados, dorminhocos, fraudulentos, doentes ou normais. E, para ficar mais complicado, fui trabalhar numa linha bem movimentada, que ia de um terminal de periferia em direção ao centro comercial da cidade. 
   Além de muito cansativo, é estressante, porque eu tinha que saber como lidar com os passageiros. O motorista não precisa falar diretamente com os passageiros, apenas quando era extremamente necessário (muitos não entendem isso...). Mas eu tinha que lidar com quase todos os que entravam no ônibus (excluindo os idosos, é claro, que tinham direito de entrar pela porta de saída, sem passar pela catraca).
    Sempre há os fraudulentos, aqueles que tentam criar uma circunstância para não pagar. Eles dizem, por exemplo, que o PASSECARD (cartão que contem créditos de passagem de ônibus) tinha crédito ainda, quando na verdade não tem. Eles ainda insistem, o que me dá muita raiva, pois mentem sem a menor dificuldade. 
   E acabamos vistos como os grandes vilões. Isso é injusto! Ainda vem aquelas mães dizendo que seus filhos não precisam pagar porque são menores que a catraca. Bem, a lei em Fortaleza permite isso. Mas, o filho dela tinha quase 2 metros (acho que exagerei um pouco) e ela ainda insistia. Isso é muito estressante
    Para torna a bagunça maior, tem sempre os vendedores ambulantes e os mendigos. Eu sei que a vida é difícil, mas tem alguns que estão ganhando bem e outros que agem de má fé. Não querem pagar passagem e ainda procuram lucrar por apelar para a compaixão das pessoas. A frase típica é: "eu poderia estar roubando, matando, usando drogas, mas estou aqui vendendo...". 
   Já vi casos de vendedores ou pedintes que contam histórias diferentes em cada linha, ou seja, é invenção. Não posso deixar de citar aqueles que pedem para alguém pagar sua passagem. Quem sabe se é verdade ou não? Não sei. Não vou julgar.
    Eu não recebi treinamento para lidar com pessoas dessa forma. Nem recebo auxílio-psicólogo (já estou precisando de um). Muito menos tenho muito dinheiro para tratar minha audição, que está sendo desgastada pelos barulhos do ônibus, devido a "pessoas" ouvindo música do celular sem fone de ouvido e reclamando (ou PIOR, CANTANDO!!!). E, vez por outra, aparece um bêbado para completar a bagunça. É, vida de cobrador de ônibus não é mole.



Alexandre Valério Ferreira




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