Conversa Fiada



Por Alexandre Valério Ferreira


NADA MELHOR do que uma conversa fiada. Ela não possui um tema nem uma motivação específica. Existe apenas por e para si mesma. O meio é a finalidade. Os assuntos são dos mais diversos, mas o objetivo é um só: interagir.
   A conversa fiada é aquele papo no qual inicia-se com um tema e acaba com outro sem nenhuma relação. É quando conversamos com alguém sobre o preço da gasolina e, cinco minutos depois, estamos discutindo sobre como os Pokémons conseguiam entrar dentro das pokébolas. 
   Elas podem acontecer a qualquer hora. De manhã, de tarde ou de noite. E de qualquer forma: por celular, na internet ou cara a cara. Geralmente, ocorrem em momentos de relaxamento, quando estamos pouco preocupados com o passar das horas. Talvez, por isso seja tão agradável.
   Para ela acontecer de fato, é preciso ter uma boa companhia. De boa companhia entenda: gente que nem a gente, que não tem frescura, despreocupada. Alguém que tenha sobre o que falar e goste de conversar. 
  Não tem problema se ela é tímida. Basta ter disposição e interesse. Aliás, algumas pessoas acanhadas costumam ficar mais a vontade nesse tipo de conversa, pois estão relaxadas. Em certos casos, falam até mais do que da conta. Logo, a conversa fiada independe de os interagentes serem extrovertido ou introvertido.
   Só é preciso querer e estar com a mente aberta. A ideia é gastar tempo comunicativo com alguém que nos faça sentir-nos bem. Não é maravilhoso quando passamos horas a fio com uma boa companhia, rindo de besteiras, falando da vida, sem o assunto nunca morrer?
   Devido a correria do dia a dia, o uso descontrolado do celular, a dificuldade de comunicar e a falta de empatia, as conversas fiadas estão perdendo espaço. Alguns podem compará-las aos memes que compartilhamos na Internet. Mas não é a mesma coisa.
   Entenda: não estou dizendo que devamos evitá-los. O problema é que às vezes os memes se tornam o eixo principal da conversa e, em sua ausência, o papo morre. Não é para menos que, volta e meia, vejo algumas conversas se sustentarem apenas com pessoas mostrando as mensagens engraçadas que viram na Internet.
   O problema nisso, a meu ver, é que vamos perdendo a capacidade de criar diálogos construtivos. A conversa fiada não é inconsistente. Pelo contrário, envolve uma forte interação emocional e cultural entre os participantes. 
   Mas conversamos muito virtualmente, parece que perdemos o prazer do olhar, da mensagem transmitida através dos aromas e das expressões faciais, do diálogo construído para fazer o outro compreender, do tato.
   Será que nos faltam assuntos? Será que a modernidade líquida está nos levando nessa roda de camundongo cada vez mais veloz mesmo? Vivemos como na indústria cinematográfica, que acha que precisa de cada vez mais de monstros exageradamente gigantes ou efeitos especiais para tudo. Quanto mais ingerimos esse conteúdo, mais doses e em maior quantidade demandamos.
   A conversa fiada é livre. É leve. Não tem exigências. Os músculos estão relaxados. Os mecanismos de defesa do cérebro baixam a guarda. Está sem medo. E o que é melhor do que está em paz com quem gostamos?

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