Ruas estreitas

Paris's streets. Foto: http://uploads7.wikipaintings.org/images/maurice-utrillo/paris-street.jpg
  As ruas andavam pelas pessoas. Corriam diante dos meus olhares. Perdiam-se em meio a perspectiva do horizonte já esquecido. Vidas passavam-se pelas janelas. Flores voavam diante dos meus olhares. Eu mal podia enxergar tudo. Era tudo tão rápido. Tudo tão intenso. Tudo tão sem importância. Tudo tão importante. Que loucura.
  Que estaria dizendo eu? Que sonho louco seria esse? Onde eu estava? Correndo por Veneza? Estaria perdido em ruas estreitas de Paris? Estaria eu fugindo em meio a imensidão de alguma favela? Não sei. Nada entendia. Só via olhares. Uns tristes, outros felizes, outros indiferentes. As ruas eram apertadas, não, na verdade, eram intensas, humanas. 
  Era tudo tão rápido. Uma senhora tomando chá. Um moleque fugindo pela janela. Flores e sabores. Sonhos e medos. Ruas tão estreitas, tão intensas, tudo tão próximo. Andava eu por rotas estranhas, assimétricas, sem lógica. Seguiam um rumo esquisito. Alias, seguiam rumo nenhum. Um labirinto de cores e de vidas. Muitas delas esquecidas. Nem lembro mais.
  Em que veículo eu fazia essa viagem maluca? Só podia ser uma pequena motocicleta! Nenhum carro correria tanto por vias tão estreitas, por calçadas e escadas tão vivas. Ninguém iria tão rápido. Eu não estava a pé. Não sei. Só sei que nesse mundo de ruas apertadas, os corações eram vivos e bem coloridos. E um sorriso podia facilmente ser alcançado. 
  Mas não vi jóias, não vi ouro, não vi mansões. Vi cortiços e quitinetes. Vi cores e janelas. Talvez fosse mais um dos meus sonhos malucos em meio a melodias que me faziam viajar. Talvez. É, não passava de um liquidificador, uma mistura de sonhos e lembranças. Era só uma melodia, era só um sonho.




Alexandre Valério Ferreira



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