Recolorindo a rosa

Flor. Foto: Cynthia Nunes.
  Melissa estava no trabalho. Era um daqueles dias comuns. Alias, todos os seus dias eram comuns. Não tinha vida agitada, muito menos animada. De casa para o trabalho e do trabalho para casa. Era desse jeito de segunda a segunda. Não que ela gostasse do trabalho que fazia. Claro que não era isso. Na verdade, ela não suportava o serviço. Mas, querer nem sempre é poder.
  Bem, aquela terça-feira era como qualquer outra. Alias, as terças-feiras parecem ser dias condenados ao tédio. Não sei. Na segunda-feira, pelo menos vemos as pessoas falando como foram chatos ou legais os finais de semana, além de reclamarem que já era segunda-feira, na internet. Uma colega de Melissa deixou uma flor (uma rosa, de fato), dentro de um um copo, na mesa de Melissa.
  Melissa chegou e se espantou com o objeto. Perguntou, claro, quem foi que deixou ali. E sua colega, uma jovem adulta de cara irritada e de personalidade vazia, disse que não gostou do perfume da flor e que poderia ficar com ela. "Então, tá", disse Melissa. Porém, pouca atenção deu aquela pobre flor, pois pobre estava seu dia.

Flor. Foto: Cynthia Nunes.
  Bem, na manhã seguinte, ela foi para seu local de serviço e notou que a flor estava murchando. Parecia até com ela mesma, que em plena quarta-feira, já ansiava o fim de semana para curtir a vida loucamente nas redes sociais. Decidiu, não se sabe por qual razão, colocar um pouco de água dentro do copo. Apesar de, na mente dela, acreditar que qualquer coisa que ela fizesse pudesse surtir qualquer efeito na rosa.
  Quinta-feira, quase sexta-feira. Melissa chega atrasada e apressada. Não presta atenção em nada e em ninguém. Muitas coisas para fazer no trabalho. De repente, enquanto tentava organizar uma planilha no Excel  percebeu um reflexo rosado na tela do seu monitor. Olhou para o lado e viu a rosa. Estava em um tom de rosa vivo. Era incrível! Como era possível que com aquele pouco de água, aquela flor voltou a sorrir em cores e até estava de pé novamente. Era a vida, em sua luta constante para sobreviver, sem nunca existir  Isso causou forte impressão em Melissa.
  Melissa não é de ter autoestima elevada, mas, aquilo a deixou contente. Seu trabalho até rendeu mais. No outro dia, chegou até mais animada e feliz por ter uma bela rosa na sua mesa. Mas, logo o trabalho tomou seu tempo e a sexta-feira logo acabou. Ela, de tão animada, até decidiu viajar para alguns amigos em uma cidade ali próximo.

Flor. Foto: Cynthia Nunes.
  Segunda-feira, chegou alegre. Porém, Melissa pelo visto esqueceu de algo. Esqueceu de colocar mais água e a rosa ficou o fim de semana inteiro sem água. Evidentemente, murchou tanto que, nem com todo esforço de Melissa, voltara a ficar de pé. Suas pétalas caíram  É, Melissa se enganou. A rosa não ia viver por esporádicos momentos de bondade de Melissa. Sim, precisava ser constantemente regada, cuidada. Melissa até ficou triste. 
  No outro dia, entretanto, ela veio diferente. Parecia animada e decidida. Não era o normal de Melissa, cuja autoestima não era das melhores. Mas, trazia consigo um jarro. Sim, um jarro. Não tinha nada ainda. Mas, dizia ela que era uma terapia. Os colegas pensaram que ela surtara, até que algumas semanas depois, estava desabrochando algumas flores.



Alexandre Valério Ferreira



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