Janela Transiberiana

Transiberiano. Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifMnCHm-W3KXlVUFzvSoL4NTtlZ7SjV0aPtd7WIAemG0BSPWNZwI6Evhcdjtlahz5A4YkDTjIt80exYv6oao2jUokIhI65-x5nF1gCRkthhETHrUyoOeGHcXzwpCZ51nBXn209d3VhYUY/s1600/yek24.JPG

  Queria esquecer. Queria ir embora. Eu estava cansado de tudo. Decidi então fugir em direção ao sol. Decidi ir para onde o sol nascia. Quem sabe me desse uma luz por lá. Assim, peguei a transiberiana. Adeus Moscou! Adeus ocidente! Vou-me embora! Quem sabe ainda volte? Mas, não posso garantir nada.
  E, estava agora eu percorrendo o mundo. De fato, a Rússia é um mundo. Tantos povos, tantos cenários naturais, tantas histórias. Pegando a transiberiana, eu lutava contra o tempo. De fato, o trem ia na direção onde o sol nascia, na direção para a qual a Terra girava. Exato! Eu fugia do pôr-do-sol! Não queria que o dia acabasse. Queria adiar o amanhã. Do que eu tinha medo? Não sei.
  A janela me fazia sonhar. Ela me fazia esquecer. Esquecer o que? Esquecer o que eu não queria lembrar. Só que me fazia lembrar. Lembrar do que? Lembrar do que eu não queria esquecer. E do que eu não queria esquecer? De toda a beleza que da janela transiberiana meus olhos podiam alcançar. Ver os montes Urais, ver o reflexo no lago Baikal, ver os diversos rios abaixo das nossas rodas, ver aquela bela vegetação e, quem sabe, ver algum urso perdido.
  A viagem era longa. Eram quase  10.000 quilômetros até Vladivostok. Porém, mais longos e distantes eram meus sonhos. E, a cada parada, a cada presente da natureza, a cada gentileza dos passageiros, mais esse sonho crescia e mais o passado eu esquecia.
  Eu ia para onde o sol nascia. Quem sabe eu melhorasse de vida? Deixei os temores congelando na Sibéria. Até tive pena. Mas, para quê? Pra que serve a autopiedade? Não! O trem não para e eu também não! Vou para o Pacífico. Vou para o Japão. Voltarei? Não sei. Mas, viajar é preciso.




Alexandre Valério Ferreira




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