O Pardal



De Alexandre Valério Ferreira


  O pardal possuía diversas vantagens em relação às outras aves domésticas. Eles não possuem um canto chamativo. Não apresentam uma penugem exuberante, colorida. Não são consideradas aves excepcionalmente inteligentes. Não são incomuns, exóticos. Não são nada de mais.
  Mas são defeitos! Sim, é verdade. São "defeitos". Uma palavra forte, mas no sentido geral, pode-se dizer que eles não se destacam por nada. Os "amantes" de pássaros não encontram qualidades atraentes neles, por isso, não os criam.
  Não os criam... Ou melhor, não os aprisionam. Por serem considerados insignificantes e sem valor comercial, os pardais estão livres da caça. Quem se importa com eles? O que eles procuram são azulões, canários, periquitos-da-caatinga ou cardeais. 
  Assim, por não serem "nada", os pardais são livres. Não precisam cantar belamente e nem exibirem tons vivos nas penugens. Só precisam sobreviver. E, para eles, pouco lhes basta. A comida é pouca, mas suficiente. 
  Os pardais não chamam a atenção. Seu barulho não incomoda nem atrai. Os garotos de rua não costumam caçá-los. Até os gatos tem preguiça de capturá-los. Parece não haver inimigos além do concreto e da fome.
  Irônico é perceber que a insignificância representa liberdade. Beleza atrai maus olhares, invejosos, gananciosos. Requer mais cuidado, menos confiança, menos liberdade. A vida é cheia desses paradoxos. Parece que tudo tem um custo. Às vezes, vale a pena e, às vezes, não.



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