O Telefonema

Telefone. Foto: https://doisnomes.files.wordpress.com/2009/08/125_16_telefone.jpg

De Alexandre Valério Ferreira


  TRIM...TRIM...O telefone toca. Trim...trim... Ele persistem em chamar por atenção. Aquele som metálico e estridente do velho aparelho reverberava por toda a casa. Mas, eu não queria atender. 
  Sei que parece estranho. Talvez seja mesmo. Porém, tenho uma razão válida. A minha justificativa é convincente. Se tiver empatia e atenção, saberá o significado de minhas palavras. Afinal, palavras não são apenas palavras, assim como pessoas não são apenas pessoas.
  Tenho medo. Cansei de decepções. Estou exausto de notícias ruins. Não quero mais. Para evitá-las, decidi fugir de sua fonte: o mundo. Estou aqui. Longe de todos. Resguardado. Mas, o telefone insiste em me ligar à sociedade. Mas, eu não estou com vontade.
  Tenho medo de receber uma ligação com notícias ruins. Descobrir que alguém que amo faleceu. Ser informado de uma entrevista sem resultados. Avisar que fui demitido. Noticiar que minhas contas estão em atraso.
  Fugir? Sim, fugir. A tola ilusão da procrastinação. Achar que correr é o melhor caminho para todas as situações. Eu me condeno por isso. Eu sei o que é. Sim, eu sei. No fundo, não quero mudar. Deixei o medo crescer.
  Mas, tente me entender! Não acha que é melhor evitar sofrimento? Se as ligações podem trazer notícias ruins, por que então atendê-las? Não seria um risco desnecessário? Não concorda comigo que melhor é me resguardar na ignorância dos fatos a sofrer a angústia da realidade?
  O bom é fugir. Ter medo e aceitar sua condenação. Viver em cavernas, na escuridão, temendo a realidade da claridade, da luz. Arriscar pra quê? Melhor me proteger no casulo da ilusão e da ignorância, a viver a realidade do imprevisível...
...
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TRIIIM...TRIMMMM
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- Alô?...



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