Na Loucura dos Ventos



De Alexandre Valério Ferreira



  As hélices se moviam sem descanso. Os ventos de agosto eram os melhores. Sua força eram descomunal. Moviam morros e pipas. As dunas ganhavam movimento. Deslocavam-se acompanhando o ritmo das brisas. Cobriam e descobriam. 
  Mas, nem tudo é água de coco. As ventanias do final do ano também trazem muita poeira. Triste daqueles que possuem elevados padrões de limpeza. São dias difíceis, agonizantes. Não importa quantas vezes você passe o pano na mobília, ela sempre estará suja de poeira. 
  O vento é inimigo amigo. Suja e limpa. Do leste, ele vem limpando, carregando o que não tem firmeza para o oeste. Pagavam o pato as casas que ficavam nos finais de ruas. Triste daquelas que olhavam para o sol a cada amanhecer.
  A poeira vinha de todo canto. E, apesar de leves, gostavam de se fixar nos móveis, livros e eletrodomésticos. Traziam consigo um pouco de tudo, mas não eram nada além de sujeira. Escureciam o que era branco e tornava branco o que era escuro. 
  Com o passar dos dias e da preguiça, os pés iam ficando com um solado preto, sujando ainda mais a casa, para ódio das mães. Os cabelos coçavam-se. Os fios se ressecavam. Os olhos choravam nas ruas ao levantar da poeira. 
  O vento também era coisa boa. Trazia umidade. Esfriava a quentura que tomava de conta da segunda metade do ano. Mas, nos sertões da vida, o vento secava os açudes. Ressecava rostos e folhas. Traziam doenças respiratórias e mais poeira.
  Nessa loucura dos ventos, quem mais se alegravam era os aerogeradores. Não eram moinhos, mas também produziam algo. Roubavam do vento suas forças para nos dar energia. Suas hélices dançavam com as brisas e giravam alegremente nos litorais nordestinos. Eram dias poeirentos. Eram dias de sol. Eram dias de muita praia e água de coco.


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