Olhares de Uma Janela

Janela. Foto: http://japansbutterfly.blogspot.com.br/2012/06/letters-transformando-rotina-em.html

De Alexandre Valério Ferreira


  Janelas param por alguns instantes. Elas, sem nenhuma vergonha, miram olhares diversos para mim. Alguns, perdidos à procura do que olhar. Outros, tentam achar o que não olhar. E ainda outros, olhavam sem ver.
  De vez em quando, no esperar das linhas de ônibus, eu era percorrido por análises de estranhos. Desconhecidos me julgavam e sentenciavam um comportamento, uma história, uma posição social para mim e os outros pedestres que esperavam cansados pelo seu ônibus.
  O que esses olhares diziam? O que encontravam em nós, pedestres sem ônibus? Talvez encontrassem o reflexo deles mesmos. Afinal, o que imaginamos nos outros não pode se basear em nada além do que já vimos ou pensamos na vida. Logo, criamos um personagem com base em nós mesmos.
  Assustador? Sim, talvez seja. Pior do que o que não sei é aquilo que eu sei. Pois, ao não saber o que pensam de mim, posso viver na dúvida e na esperança de bons corações. Ao saber, posso me decepcionar. Posso me desanimar (ou não). A vida é correr riscos, não é verdade?
  Aqui e acolá, olhares das janelas vigilantes se cruzam aos meus. Existem os que se desviam rapidamente, tentam me enganar, fingindo inocência. Seria uma presunção pensarem assim. Pois, o que eu penso deles é um mistério para eles (e até para mim, em alguns momentos).
  Sinto uma vontade de olhar. Tento achar rostos amigos. Caço olhos cativantes. Desvio dos olhares que se desviam. Mas, estes são os que mais nos atraem. Queremos ser observados, mas não queremos que nos vejam (pelo menos, não por dentro). Não gosto da vigilância excessiva. Gosto do meu quarto secreto da minha mente. Mas, os olhares costumam trair nossos mistérios e revelá-los àqueles que estão dispostos a analisá-los pacientemente.
  Dezenas de olhos vasculham as paradas. Tentam achar de tudo, mas não querem ser vistos. Querem vigiar sem serem vigiados. Querem encontrar olhares atraentes sem que sejam delatados. É tudo um paradoxo.





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