Carta do Sabiá

Sabiá. Fonte da foto: http://pampa-linda.blogspot.com.br/2009_12_01_archive.html


Fortaleza, 24 de Maio de 2012.


Prezada Graúna,
   Estou enviando esta carta para lhe informar da minha situação. Como você já deve ter notado, eu desapareci da nossa mata. Desobedecendo as ordens da minha mãe, fui me aproximar de um negócio esquisito feito pelos humanos. Mas, a culpa não foi minha, tinha outro sabiá lá dentro e ele estava cantando e comendo algo. Visto que eu sentia muita fome na ocasião, acabei me aproximando. Acho que para a lei dos humanos, comer aquele alimento que eles deixam exposto é um crime grave, pois fui preso.
    Fui condenado a prisão perpétua, acredito. Não me explicaram as razões. Será que foi mesmo aquela comida que roubei? Será que é errado voar? Talvez eles considerem crime alguém ter asas e voar. Não sei. Só sei que eu estava numa espécie de caixa com grades. Eu via as árvores, mas não podia ir até elas. A princípio, enlouqueci. Queria sair a todo custo. Era horrível.
   Durante o período que fiquei preso, fui cruelmente torturado. Eles me seguravam às vezes. Alguns humanos se aproximavam e faziam barulhos horrendos. Eu tinha muito medo. Achava que iam me matar! Era terrível! E eles faziam uma "zuada" a qual eles chamavam de gargalhada ou assovio. Pense num barulho estranho... Porque eles faziam isso comigo? Ah, nem falei da comida. Todo dia era a mesma coisa. Eu chorava de saudades dos frutos do meu sertão, daquelas sementes deliciosas. Agora, eu estava comendo apenas para não morrer de fome.
  Mas, se você pensa que me desanimei, está enganado.  Nunca, em nenhum momento, deixei de lembrar do prazer que é voar, de sentir o vento atravessando minhas penas. Acho que os humanos tem inveja de nós. 
   Todos os dias eu procurava uma saída na gaiola. Eu voava de um lado para o outro, procurando uma brecha, por menor que fosse, para eu sair dali. Infelizmente, ela não existia. Até então, eu me encontrava nessa situação.
    Um dos humanos, entretanto, parecia ser diferente. Ele era menor que os outros, só que tinha algo de especial nele. Os outros o chamavam de "criança" e diziam que ele tinha "5 anos". Não sei o que isso significa, mas deve ser algo bom, porque aquela criatura era boa. O olhar dele era cativante, ao contrário dos outros, os quais eu olhava fundo e não via nada. 
  No caso deste garoto, eu sentia ternura. E eu não me enganei! Ele estava atento a meu sofrimento. Notou que eu queria fugir e sentia compaixão de mim. Então, um dia, estavam todos do outro lado da casa. Ele veio silenciosamente e abriu a prisão! Você não imagina como fiquei grato! Ainda olhei para ele antes de levantar voo! Ele fez movimento com uma daquelas patas com cinco dedos deles. Acho que era um adeus. 
    Bem, já descobri como chegar em casa. Um pombo correio me deu algumas informações sobre o percurso, mas ainda estou confirmando com outros pássaros, pois este tal pombo já sofreu um atropelamento, só tem um olho e agora acredita que é um gavião...Já viu uma coisa dessas antes? A gente encontra de tudo que é estranho neste local cinza e de poucas árvores, a tal da cidade. Mas vou conseguir, pode acreditar. Avise a minha família. Talvez eu chegue no próximo inverno. Abraços.




De seu grande amigo,
Sabiá




Alexandre Valério Ferreira



Comentários

  1. quee lindo seu trabalhoo!!!muito belo o texto,incrivel,ameiii!!!

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  2. Achei engraçado essa parte ''E eles faziam uma zuada a qual eles chamavam de gargalhada ou assovio. Pense num barulho estranho...''kkkkkkkkkkkkkkkkkk

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    1. Pois é! Eles cantam quando conversam entre si! Logo, como não cantamos ao falar, deve ser um ruido, do ponto de vista deles kkkk

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