Tirando o Mal pela Raíz


De Alexandre Valério Ferreira


  Estavam cansados dela. Não oferecia mais sombra, nem frutos. Atrapalhava a saída dos carros. Além disso, não achavam ela bonita. Em outras palavras, ela era considerada inútil. Não careciam desse desperdício.
  Entretanto, ninguém estava disposto a cortá-la. Afinal, um serviço desse tipo envolvia muito trabalho braçal e tempo. Sem contar que o machado estava "cego" e em mal estado de conservação. Não cortava nem mesmo pudim.
  Resolveram o problema. Decidiram queimar a árvore. Afinal, seria um processo simples e prático. No final, apenas teriam que limpar a sujeira, se é que seria necessário ou estariam dispostos. Mais fácil era deixarem que o vento fizesse o trabalho de levar as cinzas.
  Decidiram fazer a queimada a noite. Assim, teriam uma bela fogueira e pela manhã já estaria tudo apagado. Derramaram, então, um pouco de gasolina na base da seca árvore. O menino trouxe a caixa de fósforo. Estavam animados para ver a desgraça. Atearam fogo.
  Começou a queimar, mas o vento fez o desserviço de apagar. Tentaram novamente. Apagou de novo. Mais uma vez. Aconteceu a mesma coisa. Por fim, colocaram um pouco de palha no buraco que havia no tronco e iniciaram as chamas.
  Não crescia muito, porém, era constante. De manhã haveria de restar apenas pó, eles imaginaram. Foram dormir. Estavam cansados do tédio. A noite foi tranquila. De manhã, ao cantar do galo, foram capinar.
  A árvore, para surpresa deles, continuava de pé. Incrivelmente, queimara a base do tronco e parte das raízes e, ainda assim, ela não cedeu. Ela não caiu. Como isso era possível. Todos ficaram surpresos. 
  Por incrível que pareça, aquilo deu grande respeito àquela árvore. Decidiram deixá-la cair com o tempo. Não haveria de muito durar, achavam. Mas, ela resistiu ainda um bom tempo. Não apenas resistiu, como também gerou novos brotos em sua base. A vida terminava e começava outra.




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