Ela e a Lagoa



De Alexandre Valério Ferreira



  Ela rodeou a lagoa. Olhava atentamente para o nada. Os seus devaneios estavam solidificando-se a cada dia. O banco da lagoa era seu altar. As águas refletiam a luz do sol que, timidamente, procuravam iluminá-la. 
  Não sei bem quem ela era ou o que procurava. Tinha momentos que eu sentia que ela estava buscando alguém. Outras vezes, no calejar das tardes, ela despertava uma sensação de completude, como alguém que de nada precisa ou que está ali apenas por estar em si.
  Seria a espera por alguém especial? Seria uma busca por inspiração? Como eu poderia saber? Apenas hipóteses formigavam sobre meu interior. E, o passar dos dias, ao invés de me orientar, deixava-me mais confuso, mais perdido.
  Os cabelos morenos dela balançavam com o passar da brisa. Mas, ela não os ajeitava. Talvez não precisasse. Talvez, não quisesse. Queria saber o porquê daquela solidão (ou daquela completa autossuficiência). 
  Já não sei o que dizer. Um dia eu não a vi. Ela não apareceu mais. Sentei-me no banco onde ela sempre ficava. Tentei descobrir o que tanto atraia o olhar daquela moça.O que seria? Haveria resposta? De repente, um velho passando me exclamou:
- Engraçado... o senhor...
- Por quê?!
- Você está no mesmo banco e com o mesmo jeito daquela jovem cega que sempre ai sentava...




 

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