O tamarin(d)o e o vento



  Naquelas terras esquecidas do litoral do Piauí, nasceu um tamarindo. A brisa do mar o nutria. Mesmo nos desertos de dunas, ele não passava sede. Desde o começo, sua existência era uma prova viva de que não desejava morrer.
  O tamarindo, como toda árvore com bom juízo, vai atrás daquela luz que ilumina nosso planeta e nos fornece energia. Porém, sem abrigo contra nada, aquela árvore tinha um inimigo a enfrentar: o vento.
  O vento era de uma natureza teimosa. Não julgava ninguém, mas gostava de implicar com todos. Roubava chapéus dos turistas, jogava areia nos olhos de pessoas e bichos, carregava as pobres borboletas para long. Ele era impiedoso. E era forte também. Movia moinhos e velas.
  Mas, o tamarindo não era daquelas árvores quaisquer. Não se deixou intimidar pelo vento. Este, indignado com tamanho desafio, não deu trégua para a planta e a atormentava constantemente. 
  Pobre tamarindo, sofria dia após dia com a ira do vento. Por mais que tentasse crescer, por mais forte que tentasse se mostrar, ele não passava de uma árvore de 3 metros de altura. Nem se comparava com outras de sua espécie. 
  Mesmo assim, aquele tamarindo não desistia. Sua perseverança o levou a ser resiliente. E dos problemas, ele começou a encontrar vantagens. Aquela ventania facilitava ele transmitir suas sementes. Além disso, o refrescava mais, diante daquele calor abrasador. 
  Algo inusitado aconteceu depois de alguns anos. Como ele não desistiu de crescer, inclinou-se na direção que o vento o levava. Se tornou uma árvore de baixa estatura, mas com um aspecto exótico. 
  Alguns começaram a apelidá-la de árvore penteada. Logo esse tornou-se o nome mais famoso daquele tamarindo. Depois de anos de fama, onde aventureiros saíam da rodovia apenas para visitá-la e fotografá-la, o governo construiu uma praça a seu redor e ela se tornou um ponto turístico.
  E o que o ventou aprendeu com isso tudo? Não se sabe. Mas, o tamarindo amadureceu muito. Não apenas seu tronco se tornou mais grosso e resistente, mas o ser do tamarindo não era mais como antes. Cresceu e nunca voltou ao estado que era antes. Ele era um símbolo de resiliência.


Alexandre Valério Ferreira


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