Portão Trancado


De Alexandre Valério Ferreira


  O portão estava trancado. E agora? Pular a cerca? Talvez. E se alguém pensasse que sou ladrão? Poderia gerar diversos problemas. Se o morador tivesse uma espingarda? Era como possuírem exemplares dela, a fim de se protegerem e caçarem. Estou confuso.
  O silêncio era quebrado pelo chiado das árvores ao dançar dos ventos. Eu precisava entrar. Mas, e se tivessem cachorros? Não tenho medo de cachorro, porém, não desejava ser mordido. Não carecia disso.
  Bati palma. Gritei. Clamei "ôh de casa" em vão. Parecia inóspito. Onde estaria todo mundo? Enquanto nada se resolvia, meu couro queimava diante do sol abrasador que, sem descanso, brilhava no céu limpo.
  Eu mexi o portão algumas vezes. De repente, uma das barras de ferro se quebrou! Estava enferrujada. Não era minha culpa. Nada fiz. Abri o portão e avancei sobre o terreno desconhecido. Admito que estava nervoso, mas não havia alternativas. Precisava entrar.
  No alto do morro, vi um cachorro preto. Parecia ser de baixa estatura. Fugiu. Fiquei aliviado. Porém, minha alegria durou poucos minutos. Instantes depois, o pequeno vira-lata vinha com um cachorro duas ou três vezes maior do que ele!
Agora eu estava morto! Correr? Ficar? Meu cérebro não conseguia decidir. Enquanto isso, os animais se aproximavam, mas sem correr.
  Na distância que eu estava do portão, já não havia mais jeito. Era esperar para ver. Os dois cachorros pretos chegaram. Não, não tentaram esganar meu pescoço. Também não latiram para mim. Pelo contrário, ficaram alegres.
  Abanavam os rabos loucamente. Apesar do tamanho, eram mais molengas do que manteiga. Fiquei rindo de mim mesmo. Espero que ninguém tenha visto meu ridículo. Eles me cheiram e me acompanham alegremente.
  Mais a frente, um bando de vacas me observa atentamente. Isso me deixa um pouco ansioso. Seguido por uma vereda, acompanhado dos cães, escuto um movimento ao longe. Seria algum sitiante? Não, era uma vaca.
  Ela vinha calmamente, o que me deixou calmo. Porém, começou a acelerar o passo. Estaria tentando me atacar? Tenho medo de vacas! Saio correndo. Vou até o portão. A vaca, por outro lado, foi procurar forragem, mas o local estava vazio. 
  Ah! As vacas, magras e famintas, esperavam que eu fosse alimentá-las. Pena que eu haveria de decepcioná-las. Não tinham nem um bombom sequer. Desejei novamente que ninguém tivesse visto nada. Sigo pela estrada.
  Chegando no centro do vilarejo, encontro meus parentes. Para minha surpresa, estavam dando gargalhadas. Já sabiam de tudo! Uma neta da vó do meu tio viu tudo e contou para eles. Nem preciso dizer que virei motivo de chacota durante muito, muito, tempo. 
  Sempre que vou por lá, eles insistem em relembrar meus momentos de "medo". Eu continuo tentando convencê-los do contrário, mesmo sabendo que estão certos. Pelo menos eles não filmaram nada, ou, pelo menos foi isso que pensei.
  De volta a cidade, minha esposa ria junto com meus pais. Quis saber o que estavam vendo. Não queriam mostrar. Depois, peguei o celular e descobrir: aqueles moleques desgraçados filmaram tudo e colocaram no WhatsApp. Agora, meu momento de fuga se tornou viral... Não podia acreditar!!!









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