O Clipe



De Alexandre Valério Ferreira

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  Coloquei o clipe de metal prendendo as folhas das inúmeras leituras que eu teria para o próximo fim de semana. Sábado e domingo já não eram a mesma coisa de antes. Viraram extensões dos dias de aulas.
  Saio do gabinete da biblioteca e vou para o SESI. Faço natação. São três dias na semana.É uma atividade física revigorante, relaxante. Além disso, nem suamos ou ficamos fedendo. Fortalece o corpo inteiro e até fornece um certo bronzeado.
  Neste dia, fui de chinelo. Uma Havaiana verde cuidava dos meus pés. Após a aula de natação, sigo rumo à parada de ônibus. Ainda dentro da instituição, topo com uma pedra e a fatalidade toma conta de mim. A sandália quebrou. E agora?
  Como ser desenvolvido mentalmente, procuro soluções. Não podia andar descalço. Ainda mais naquele trecho de rua de calçamento de 1 km pelo qual ainda passaria. Preciso dar um jeito. É uma vergonha.
  Lembro, então, do clipe que mantinha minha papelada "organizada" (ou pelo menos tentava). Retiro ele e o entorto. Quero utilizá-lo para fixar a sandália. Acho que todo mundo alguma vez fez isso.
  Apesar da borracha da Havaiana ser de fácil penetração, eu precisava de uma ferramenta. Um coco serve para isso. Sorte haver tantos coqueiros naquele parque. Como um ser primitivo, utilizo essa ferramenta equivalente à uma rocha e consigo enfiar o clipe na sandália, prendendo as amarrações.
  Deu certo! Mais do que isso, durante um mês inteiro continuei utilizando-a. E, por incrível que pareça, não deu nenhum problema. Evidentemente, entretanto, era chegada o momento de comprar a sandália nova e isso aconteceu. 
  De qualquer forma, foi uma experiência cômica. Não diria constrangedora, visto que conheço muitos que já o fizeram também. É da natureza cearense.


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