Distorções do Julgamento



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Poucos fizeram curso de advocacia. Menos ainda são juízes oficiais. Ainda assim, a grande maioria de nós insiste em exercer esse papel. Acreditamos que somos mais do que capacitados para exercê-lo e que nossas experiências pessoais são a confirmação de nossa elevada ciência.
   Parece brincadeira, mas não é. Muitas vezes não conseguimos perceber como somos julgadores e intolerantes. É fácil ser rígido. Difícil é enxergar isso em nosso próprio comportamento. Na maioria das vezes, os disfarçamos com justificativas morais. Sempre temos uma desculpa.
   Julgar e condenar as pessoas se baseia em ideias muito irreais. Ao realizamos o julgamento, supomos estar a par de todas as informações. Inventamos provas, justificativas e temos a arrogância de sabermos até o que a pessoa pensou e as intenções dela. Vamos mais longe do que o réu poderia sequer supor de chegar.
   O nosso julgamento carece de imparcialidade. Muito comum é condenarmos os outros por falhas que vemos em nós mesmos e não queremos aceitá-las. Um exemplo típico disso é a hostilidade causada pela inveja. A gente se compara com outros e ao nos considerarmos incapacitados, desejamos que o próximo não tenha aquilo que nós não conseguimos. Mas, não dizemos isso para nós mesmos. As nossas atitudes é que desmascaram os disfarces que utilizamos.
   Assim, é fácil notar que os julgamentos estão comprometidos pela nossa própria incapacidade. Não somos preparados para isso e nossa visão muitas vezes é distorcida por sentimentos escondidos, enterrados, mas ativos. 
   Notamos isso até mesmo nos preconceitos. Muitos tentam justificá-los. Os nazistas defendiam a eugenia da raça ariana. Se diziam superiores geneticamente. Então, pela lógica, poderia sujeitar as raças inferiores ao seu domínio. O mesmo se deu com outros pensamentos eurocêntricos. 
   Até mesmo Rousseau, pensador que influenciou a Revolução Francesa, acreditava que países dos climas quentes não conseguiam viver em democracia, mas só funcionava ditaduras para eles. Lógicas ilógicas.
   Julgamentos, além de incorretos, são desnecessários. Por que gastar tempo olhando a vida dos outros? Nunca saberemos tudo que se passa na vida deles e muito menos o que pensam. Então, para que se angustiar com situações fora do seu controle e sem importância para você.
   Claro que existem situações limites. Uma coisa é julgar as pessoas por pequenos detalhes, inventando intenções e sentimentos maus da parte delas. Outra coisa é ver uma situação de risco, como alguém com comportamento questionável, como psicopatas, pedófilos e assaltantes. Nesse caso, devemos nos proteger e aqueles a quem amamos. 
   O problema está em julgar todos ao nosso redor. Criamos papeis para eles e os sentenciamos sem direito para defesa. Isso nos torna negativos, desanimadores. Viramos aquele tipo de pessoa que simplesmente diz: "ser humano é um lixo". 


Alexandre Valério Ferreira


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