Diário de um Momento Cinza


De Alexandre Valério Ferreira


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Não dava trégua, a chuva. Faziam dois dias que o clima permanecia em tons de cinza. A cidade, sem fé que um dia vá chover, estava despreparada e se afogava nas suas artérias principais. Em todas as outras também.
   Eu estava sem guarda-chuvas. Não o esqueci. Na verdade, eu não tinha nenhum. Para ser sincero, até ontem havia um em minhas mãos, mas ele desistiu de mim e nos separamos na minha parada. Ele preferia seguir seu próprio rumo. Talvez sonhasse encontrar um dono que o zelasse mais.
   Esperando pelo momento oportuno, o aguaceiro tomou força ao me ver sem proteção. Proteção entre aspas, eu diria. Guarda-chuvas mal resguardam nossa cabeça e o resto do corpo fica a mercê da direção do vento e das poças d'águas.
   Sem nada e ninguém para me socorrer, o que restou foi correr. Lembrei-me em uma reportagem do Fantástico dizendo que nos molhamos menos andando do que correndo. O senso comum me obrigava a rejeitar aqueles argumentos científicos. Então, sebo nas canelas.
   Atravessei o cruzamento da 13 de Maio com a da Universidade na correria. Pensei que escapara ileso, mas, não. Ao chegar na sala, descubro que o salseiro não teve misericórdia dos meus livros. Condenados pela umidade, as páginas ficam encalombadas. 
    Mas, como um bom cearense, não posso deixar de ser grato por esse dia cinza. Poucos reclamam da água. O problema é o trânsito, os buracos, as filas, o prefeito, o país, menos a chuva. Ela é uma dádiva e é sempre bem vinda!



 

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