De quem é esse Jegue?


De quem é esse jegue?
  Era uma pergunta aparentemente sem resposta. Ele apenas aparecia. Rodeava o cemitério e ia embora. Não comia nenhum capim. Não se deitava na sombra. Não se importava com os velórios que estavam acontecendo. 
  Parecia que procurava algo. Mas, isso ninguém sabia. Ele não tinha dono? Talvez sim. Ninguém ousara incomodá-lo. Seu ritual deixou alguns apavorados. Achavam que era uma "aparição". As lendas eram diversas e, por meio do telefone sem fio da boataria, crescia cada vez mais.
  De vez em quando, a impressão que se tinha é que ele estava pagando seus "pecados". Era uma penitência. Fora ruim com seu dono? Deixara seu filhote morrer de fome? Sentia-se culpado pela morte de alguma pessoa? Muitas perguntas e nenhuma resposta.
  No distrito, a saga do jegue penitente se tornara famosa. As histórias continuavam a crescer. E as teorias, religiosas ou não, geravam debates demorados sobre a vida e tudo mais. Não se escreveu nenhum livro sobre. Talvez não fosse preciso. Quem sabe fosse melhor assim?
  Um dia o jegue morreu. Todos ficaram surpresos. Afinal, animais morrem? Os mais corajosos se aproximaram do defunto. Outros, lastimavam o triste fim do pobre animal. No final, um veterinário que visitava uma fazenda ali próximo, ao ouvir a história incomum, decidiu investigar.
  Fazendo papel de legista, desvendou o mistério assombroso. O jegue estava quase cego a algum tempo e parecia que seu estômago estava cheio de sacolas de lixo. Estas provocaram sua morte. Além disso, ele nada comia, o que o enfraquecera. Ninguém cuidara dele. Tudo se resumia a lendas e boatos.
  As palavras do "doutor" surtiram efeito para alguns, mas para outros não. Sempre há os que questionam tudo, mesmo sem base alguma, apenas pelo gosto de questionar. Estes diziam muitas histórias mirabolantes, que, ao passar do tempo, foram se tornando "verdades" de tão repetidas que eram. Assim, formou-se a lenda do jegue do cemitério.


Alexandre Valério Ferreira 


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