Viajantes do Acostamento

Rodovia. Foto: Autor.
  Em estradas perdidas por ai, encontrei esses aventureiros. Mas, não eram aventureiros à procura de diversão. Antes fosse... Não deixava de ser uma aventura. Percorrer dezenas de quilômetros a pé ou de bicicleta era uma verdadeira prova de resistência  Aqui e acolá víamos esses personagens, solitários ou não, percorrendo os asfaltos que cortavam a terra.
  A aventura não era entretenimento, mas sim uma questão de sobrevivência. Milhares de pessoas percorrem estradas do Brasil adentro. Estão indo de cidade em cidade, transportando produtos ou a procura de emprego. E porque não vão de carro, de ônibus ou de moto? Essa pergunta chega a ser ofensiva e parece subestimar a inteligência desses indivíduos. O problema não é querer, o problema é PODER.
  Sim, são pessoas humildes que nem dinheiro para comprar uma passagem possuem. Como não encontram opção melhor, acabam decidindo percorrer mundos a pé. Afinal, a única coisa que tem a oferecer é sua força de trabalho, sua capacidade física  pois estudo ou cursos não costumam ter. A vida não é fácil. E, para alguns, infelizmente o mundo complica ainda mais.
  Então, esses andarilhos acabam percorrendo longas distâncias. Costumamos vê-los nos acostamentos das rodovias. É uma situação de risco, de fato. Primeiro, devido aos acidentes. Aqui e acolá um caminhão ou carro perdem o controle e geram uma batida. É que alguns só sabem acelerar, mas não sabem dirigir. Segundo, os assaltos. Em todos os lugares existe este perigo, é claro. Logo, nas estradas solitárias, isso infelizmente, também pode ocorrer.
  Requer grande motivação e muito esforço para percorrer essas rodovias. O calor às vezes é abrasador. O asfalto tende a acentuar isso. O cansaço é inevitável. Mas, nem sempre há uma sombrinha quando se precisa. Bom de andar de bicicleta é que pelo menos somos resfriados pela brisa durante o percurso. Mas, tem a desvantagem de precisar de uma manutenção maior. Vai que o pneu fura?
  As motivações são das mais diversas. Porém, a coragem é a mesma. São consequências das desigualdades inerentes do sistema em que vivemos. Alguns realizam trabalhos inúteis e ganham muito, enquanto que outros passam o dia inteiro batalhando e mal conseguem sustentar a família. E, ainda por cima, lutam para não desabarem diante dos desafiadores problemas diários que enfrentam. São verdadeiros guerreiros.




Alexandre Valério Ferreira


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