O interior

O interior. Foto: Autor.
  Não parecia ser lá grande coisa. O sítio era relativamente grande. Mas, não era como aquele dos filmes ou novelas. Alias, os cenários das novelas geralmente não tem nada a ver com a realidade, pelo menos não da maioria das pessoas. Bem, a casa era grande, mas simples. Não tinha um belo acabamento, mas era cercada por um alpendre onde podia se armar uma rede.
  Estava no interior do estado. Costumávamos visitar nossos parentes daqui. Não me pergunte o que eles eram de mim: se eram primos, sobrinhos, tios ou similar. Só sei que os mais jovens eu dizia que eram primos, os adultos eu chamava de tio(a) e os idosos sempre chamava de vovô ou vovó. Nunca houve reclamação quanto a isso.
  Não havia açude, nem cachoeira ou piscina. Mesmo assim, era muito bom. Eu me aventurava com meus "primos" pelas matas da região. Na verdade, não era vegetação realmente nativa, virgem, pois estava dentro dos limites do sítio. Mas, para a gente, eram terras nunca dantes pisadas e precisava ser desbravado pela gente. Como é de se imaginar, a criatividade da gente quando pequena é enorme. 
  Apesar de estarmos brincando, tínhamos que enfrentar riscos reais. O pior eram as cobras. Tinha muito medo de ser picado por uma cascavel, que costuma se camuflar no meio das folhas secas. Meus "primos" pegavam algumas formigas e faziam com que elas se digladiassem  Eu até que sentia pena delas, mas tinha certo pavor também. Elas eram formigas-soldado e tinha enormes mandíbulas. Eu tinha horror a formigueiros. Quando a gente mexia neles, saiam milhares delas!
  Desbravamos também sítios vizinhos. Sempre tinha o risco de aparecer um cão agressivo ou algum moleque encrenqueiro. Não sei qual era o mais feroz ou perigoso. Minhas melhores lembranças dessa época era a tranquilidade e simplicidade. Andávamos despreocupados. Na pista principal, que era estreita, era coberta de tamareiras e outras árvores frutíferas. Muitas vezes andei de bicicleta. 
  No inverno era a época onde havia mais vida. Era também a época que eu mais tinha medo e alegria. É que tudo estava verde. Era muito bonito. Porém, parece que todos os insetos e animais ressurgiam das cinzas. Eram tantos besouros, aranhas, cobras, sapos e tejos! Quando chovia, corríamos para dentro da casa. Tomávamos algo quente. Olhávamos a chuva, planejando mais uma aventura.



Alexandre Valério Ferreira




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