Sala de Estar

Sala. Foto: Autor.
  Eu me sentei e esperei. O tempo passava devagar. Não havia TV, computador nem "wifi". Meu celular estava sem sinal. Eu estava isolado do mundo, pensei. Fiquei irritado. O que vim fazer na casa da minha tia-avó? Nunca havia vindo aqui antes. A casa parecia ser do início do século XX. Eu me sentia num museu, a princípio. Onde fui parar?
  Não via relógios digitais, TV de LED e nem mesmo um celular! Telefone existia. Acredito que seja a coisa mais moderna daquela sala. O entretenimento eram aquele amontoado de revistas e jornais. Haviam livros também. Eu já não tinha paciência para livros. No mundo digital, queremos as informações de forma instantânea. Não temos tempo a perder.
  Bem, não havia jeito. Comecei a reparar no rústico mundo que estava a meu redor. Cômodas com estilo antigo, pesadas. Havia um bem conservado relógio de pêndulo, que funcionava muito bem, por sinal. A sala estava cercada de quadros. Eram molduras com fotos e pinturas. A madeira predominava. Não lembro de nenhum objeto de plástico ou de cor metálica.
  Por mais surpreendente que fosse, aquele ambiente era confortável. Realmente, a gente se sente mais humano. Era um local aconchegante. Dava até vontade de conversar, ao invés de ficar vendo TV ou acessando a internet. Até conversei bastante com minha tia. Ela contava a história de cada objeto, de cada detalhe. Como podia lembrar tudo aquilo? 
  Cada objeto naquele recinto parecia ter vida. Cada um tinha uma origem, uma história. Não havia nada que não lhe trouxesse à memória algum evento do passado. Sim, o passado, toda uma vida, pareciam ser eternamente marcados naqueles elementos que compunham a rústica sala de estar. Eu fiquei surpreso, ao mesmo tempo um pouco triste.
  Quando pensei em minha casa, lembrei de que história nela não havia. Acho que não havia nenhum objeto com mais de dois anos. A TV era de LED, o notebook comprei a dois meses e o celular era da semana passada. Claro, eu não queria ficar para trás. Imaginei que o mundo fosse assim mesmo. 
   Que triste. Os bens de hoje são tão efêmeros. Não tem como guardar uma história, uma lembrança. Aliás  tem sim! Essa TV sempre me lembra que tive que pagar 18 salgadas parcelas para um objeto que já está com defeito e fora de linha. Sem contar que o preço atual dele é menos da metade do valor que tinha quando comprei...



Alexandre Valério Ferreira






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