Muros vivos

Aracati, Ceará.
  As paredes eram frias. Não tinham cores, não tinham vida. Estava morta em si. Passar por ela era o mesmo que não passar por nada. Talvez pior. Talvez nos desanimasse o abandono, a falta de manutenção,  o esquecimento. Esquecimento... palavra comum nas grandes cidades. Histórias esquecidas, passado esquecido, futuro esquecido.
  Mas, um dia as coisas mudaram. A rua estava diferente. Havia algo novo. Que era aquilo? Quantas cores, quantos desenhos, quantos detalhes! Alguns chamavam de "pichação", outros diziam que era "arte". Mas, afinal, o que era? Bem, com permissão do dono daquele muro extenso, alguns jovens grafiteiros desenharam diversas coisas. Agora, não havia um pedaço de muro sem cor naquela rua outrora cinza.
Intervenção em uma rocha na Praia de Iracema, Fortaleza. Foto: Autor
  Parecia que o muro tinha vida. Parecia ser mais humano aquele pedaço de cidade. Sim, as cidades, feitas para habitação humana, parecem ser um dos ambientes mais hostis e desumanos de se viver. Entretanto, aqueles trabalhos de grafiteiros pareciam fazer algo na contramão desta tendência. As intervenções feitas em estruturas inanimadas dão vida a elas. Ou você não acha mais interessante quando vemos uma cabine telefônica colorida ou um muro cheio de desenhos?
  Em Fortaleza, vemos algumas intervenções interessantes, como na orla marítima, com trabalhos de grafite em navios naufragados e rochas. Algumas são bem interessantes e engraçadas. Cabe lembrar, entretanto, que grafite não é o mesmo que pichação. 
  Pichação é um ato de vandalismo e é considerado crime, passível de condenação. Pichação são aqueles rabiscos e palavras incompreensíveis escrita em qualquer parede e no alto de prédios e viadutos. São uma sujeira urbana. A arte da grafite não é isso.



Alexandre Valério Ferreira





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