Um Vulto Branco


De Alexandre Valério Ferreira


  De repente, um vulto branco percorrendo a calçada. Peluda e carinhosa, o pelo albino contrastava-se com as cores mortas do asfalto. Ninguém soube de onde ela veio. Não sabíamos para onde ela planejava ir. Mas, ela esteve por aqui.
  Era uma gata branca. Era carinhosa, meiga. Não miava e nem reclamava. Vivia na rua. Sem dono. Sem lar. Perguntamos aos vizinhos. Nenhuma informação. Ela parecia ser bem cuidada, mas não era. Estava só.
  Um dia, sem mais nem menos, nas suas estranhas atitudes, deitou-se no meio da rua. O que ela queria? Parecia nos ameaçar: ou a gente criava ela ou ela morreria. Era a mensagem que ela conseguiu nos transmitir. E surtiu efeito. Nós a trouxemos para casa.
  Parecia que sempre morara aqui. Sentia-se a vontade. Do dia para a noite, tornou-se nosso animal de estimação. Rapidamente, conquistou nosso coração. Ainda não tinha nome. A gente supunha que o dono ainda haveria de aparecer. Nunca deu notícia.
  Passaram-se uns 5 dias. Numa manhã triste de uma sexta-feira mórbida, um desastre acontece. Aquele vulto branco, outrora carinhoso e meigo, agora estava nervoso, arredio, violento. A dor começou a corroer sua existência e, em questão de pouco tempo, já não respirava mais. 
  Veneno? Talvez. Não era a primeira vez que acontecia isso na minha rua. Algum assassino sádico? Nunca saberemos. Foi tudo muito rápido, assim como o aparecimento dela. Aquele vulto branco apareceu do nada e sem mais nem menos nos deixou. A dor, por outro lado, com a gente ficou. Não só ela, mas a saudade também e a vontade de ter feito mais por ela.


      






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