O Elevador

Elevador. Foto: http://images.wisegeek.com/open-silver-elevator.jpg

De Alexandre Valério Ferreira



  Aperto o botão do elevador. Espero. Ele está descendo, mas quero subir. Estou no segundo andar. Quero ir para o décimo terceiro. Espero mais um pouco. As portas metálicas se abrem.
  Olhares estranhos se direcionam para mim. Dez olhos, cinco focos, cinco mentes, milhões de pensamentos. Constrangimento me define. A minha vista procura uma zona de conforto. Quer fugir. Medo de quê? Não sei, pelo menos, não conscientemente. 
  Os espelhos me traem. Mas, não só a mim. Também assusta a todos que neste cubículo se encontram. Não conheço ninguém. Acho que ninguém me conhece. Não deveria me preocupar, não acha? Porém, fico ainda mais ansioso. 
  O que me apavora? O mesmo que apavora a todos: o convívio social. O olhar obriga a alguma reação, quer seja um sorriso, um aceno ou um bom dia. Mas, somos todos estranhos ocupando o mesmo ambiente por um curto espaço de tempo. Precisamos desse convívio? E se a outra pessoa não corresponder? Será que pensará que estou tentando paquerar ela? 
  Socorro! Quero fugir desse mar de olhares que se repetem infinitamente nos espelhos que nos rodeiam. Não sei como reagir a tais momentos porque tenho medo de não saber como reagir em tais momentos. Estou ansioso. Não é claustrofobia. Vivo em um apartamento minúsculo. Já estou acostumado a lugares pequenos, apertados e fechados a um bom tempo.
  O medo é do incerto. Daquilo que é imprevisível. Existe algo mais imprevisível do que o outro, o ser humano ao meu lado? Posso estar ao lado de uma mente brilhante, de um maníaco, de um bom samaritano ou de um narcisista e talvez nunca descubra.
  O silêncio é um terrível delator. Ele reclama de comunicação. Grita por um pouco de diálogo. Mesmo um bom dia é bem vindo para acalmar a solidão que lhe angustia.
  Estranho estar do lado de outros da mesma espécie e não ter o que dizer. Pior que isso é saber que você não quer falar nada para eles e nem eles para você. Mas, o silêncio pesa sobre nossas consciências. 
  A solução que encontro é falar para os espelhos. Soltar um "aff! que quentura hoje". Depois que falo uma inutilidade, sinto-me aliviado. Cumpri meu papel social. Eu me relacionei com estranhos. Criei um diálogo, mesmo que tenha ecoado sem nenhum retorno. 
  Um senhor olhou. Não exibiu nenhuma reação ao meu lamento. Uma senhora olhou para o espelho, como que respondendo para sua imagem que realmente achava que estava muito quente hoje. Mas, nenhuma palavra.
  Décimo terceiro andar. As portas se abrem. Incrivelmente todos vão para o mesmo setor. Aos poucos as portas vão tragando cada um dos estranhos que compartilharam alguns poucos minutos o silêncio comigo. São todos vizinhos meus. Estranhos vizinhos estranhos, como eu.


 

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