A Trilha da Perdição

Trilha. Foto: autor.

De Alexandre Valério Ferreira


Perdi-ma na trilha. Já não sabia para qual lado seguir. Nenhum guia para me ajudar. Nenhum conhecido. Sem placas para me orientar. Sem bússola. Aliás, mesmo que eu tivesse uma, não serviria muito, pois estou sem mapas. Quem usa mapas hoje?
O celular estava descarregado. Que legal... Estava sem crédito. Mas, isso não é algo tão sério quando o smartphone não funciona. Sigo para a direita. Direita? Pensei que fosse a esquerda, uns minutos atrás... Tanto faz.
Pássaros cantam e caçoam de minha ignorância. Sempre fui dessas coisas. Na arrogância da confiança e na ignorância dos riscos, ajo como se os riscos não fossem reais para mim. Loucura? Talvez sim. Afinal, loucura é uma forma de fuga, não é verdade?
Andei, andei, andei que sentei. Sentei e dormi. Dormi tanto que sonhei. Sonhei que estava andando perdido em uma trilha. Pior que isso, eu continuava andando e apenas ficava mais cansado. Como não era suficiente, sonhei que sentava-me, desistia e dormia.
Acordei-me. Nada de almas viventes na bendita trilha popular. As horas avançavam, mas dela eu pouco sabia. Sem relógio. Usava o celular para viver e me guiar. Sem ele, nada sou. Apenas um pedaço de carne nas matas de uma trilha criada sem rumo.
Sem rumo a trilha não estava, eu sei. Todo caminho leva a algum lugar. Mas, nem sempre o lugar para o qual nos encaminha é aquele pelo qual tanto desejamos encontrar. Minha vida que perdia seu rumo. Sem guias, sem ajuda, num espírito de prepotência, afogava-me entre folhas secas e cascalho. 
Quem fez as trilhas? O que planejava? Será que também não se perdera? Elas são construídas para facilitar nossas vidas, não é? Então, por que insistia em complicar a minha? Tudo era tão igual e tão estranho para mim. A trilha me encaminhava para uma perdição de ideias, dúvidas e ansiedade. Parecia todo o resto do mundo.
Depois de muito bater de pernas, um carro me guia à civilização. A luz no fim do túnel. A saída! Finalmente, saio do caos natural para a desordem de concreto e poluição. Estou salvo. Não estou mais perdido. Ufa! 





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