Diário de Um Daqueles Momentos na Praia

Ondas. Foto: https://medicinasaudeevida.files.wordpress.com/2009/11/ondasi.jpg

De Alexandre Valério Ferreira



  O sal flutuava nas águas. Preenchia as espumas. Preservava a tranquildade da areia do mar. As batidas das ondas silenciavam meu sofrer. Alegravam o meu viver. Momento incomparável era aquele em que eu ouvia o mar se comunicar.
  Ele falava pouco, mas dizia muito. O vai-e-vem das águas. A força que insistia em avançar, mas que sempre se quebrava diante da realidade seca das areias. Mas, as águas salgadas daquela imensidão não desistiam. Rebentavam-se na sua persistência.
  Tudo no mar me faz ter a mente às ondas. As conchas mortas entoam melodias de ondas. Pinturas são manchadas de um branco salgado típico das águas insistentes dessa imensidão que ocupa boa parte do planeta.
  Por que o cantar das ondas acalma a tantos? Será que elas nos dizem algo? Tentam elas lembrar-nos de que a vida é esse eterno tentar e tentar? Talvez queira nos contar algum segredo existencial. Quem sabe precisemos de uma visão apurada para discerni-la?
  Talvez. Não sei. Porém, o quebrar das ondas consegue destruir o meu estresse. Água tanto bate até que nos fura o coração. Penetra em nosso íntimo, levando embora o leve peso que nos atormenta. Mas, que tolice é essa que estou dizendo?
  O cantar das ondas não são mais do que uma projeção de meus desejos, sonhos e medos? Seria que nelas eu encontrasse a nostalgia que tanto nos acalenta? Estaria eu iludido com o saborear do peixe salgado que adocica a vida, tornando-a mais viva e duradoura?
  O mar é o eterno. O mar não acaba. Ele é o nosso desejo. Ele é o sal que trata das feridas. É o mesmo sal salgado que usam para salgar a carne. E com que objetivo? Preservá-la por mais tempo, na ausência de uma boa geladeira.
  O mar pode ser tudo isso ou nada mais. Ele é aquilo que pensamos que ele é. As lembranças que eles nos remetem não são alheias. Elas nos pertencem. Estão todas dentro de nós. Guardadas. Às vezes, inconscientes, mas vivas, ativas. Só não são vistas claramente. Habitam nos sonhos e nas atitudes; nos desejos e pensamentos.
  Mas, o mar tem um significado singular. Não é para menos que boa parte da humanidade more perto dele. As maiores cidades do mundo são litorâneas. Diversos poemas entoam melodias sobre as ondas do mar. As canções nos lembram dele constantemente. O mundo é o mar. O mar é o mundo.
  Escrevo sempre a mesma coisa no diário, depois de ir ao mar. Parece fita repetida. Talvez seja culpa das ondas salgadas. Elas me tornam um mero repetidor daquele som inesquecível, que mesmo inaudível, é único e tranquilizante. Tudo isso é um dia no mar.




Comentários

  1. Em palavras conseguindo descrever o que a maioria de nós senti... Ah o mar levando embora o leve peso que nos atormenta...

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    1. Ir à praia é uma experiência que, por mais que a repitamos, nunca é igual. Sempre nos trás algo de bom. Limpa nossa mente!

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