Sem Sinal


De Alexandre Valério Ferreira


  Para haver comunicação ocorrer, Roman Jakobson disse que precisamos de algumas ferramentas. Antes de mais nada, é preciso de uma mensagem. Claro que ela não existe por si só. Ela faz sentido apenas quando há quem transmita e que a receba. 
  Mas, para ela chegar no meu destinatário, é preciso de um canal, um meio para transmitir essa mensagem. Quando o meio não funciona bem, existem ruídos e a comunicação pode ser comprometida. Eu estava nessa situação.
  Estava numa área sem 3G. Havia apenas sinais esparsos de operadoras telefônicas. Eu era uma ilha de comunicação. Pior que isso, estaria naufragado por uns três dias na casa de meus avós num local que nem o melhor GPS conseguia identificar. 
Sem sinal. Sem comunicação. Sem vida? Talvez eu seja um pouco dramático. Mas, eu precisava conversar com alguém! Mandei SMS. Alguns chegavam nos meus contatos. Outros, se perdiam no abismo digital que me isolava do mundo virtual.
   Senti-me agoniado pela solidão eletrônica. Sem internet, meu celular só servia para aquilo que os celulares foram projetados: ligar.  E isso de forma inconstante, dependendo do bom humor das antenas sentimentais dessas bandas.
  As mensagens que enviei chegavam perdidas, desconexas, incompletas, desordenadas. As respostas eram das mais confusas. De nada adiantava ler, pois a comunicação não estava funcionando corretamente. Como é ruim falar e não ser compreendido, não acha? Isso me gera um sentimento de incapacidade.
  Decidi, então, andar pelas ruas de calçamento, com pedras colocadas desordenadamente. Procurava algum sinal. Nas casas, alpendres eram ocupados pelos mais diversos parentes. Por definição, os mais novos são por mim denominados de "primos", os de meia idade são os "tios" e os idosos são ora "avós", ora "tios-avós". Não sei se este nome faz sentido real, mas eu o utilizo.
  Sem internet, restou-me conversar com os nativos. E, dessas conversas, geraram algumas descobertas. Soube de primos que se tornaram famosos no Sampa. Outros, sobrevivem nos morros cariocas. Alguns, perderam-se nas matas da floresta amazônica. Tantas histórias. Tantas experiências. Descobri porque tenho um sinal no pescoço. Todos da minha família possuem um parecido. A maioria tem um dedo meio estranho como o meu. E os olhos claros de meu irmão tem origem em meus tataravós. 
  Ao final dos três dias, saio com o coração partido. O bando de matutos se tornaram para mim uma fonte de aprendizado. Foi um processo de autoconhecimento. Estou grato. Tanto que até me esqueci do sinal que faltava nessas áreas.
  Na viagem de volta, penso em quantas histórias viviam naquele fim de mundo. E quantas outras habitam e se perdem nos "fins de mundo" no planeta afora? Quantos relatos, contos, experiências, heróis e vilões se escondem nesses matos? Mesmo na era da informação, somos tão desinformados, até cegos, para o que nos cerca. Caçamos longe no mundo virtual aquilo que poderíamos encontrar aqui. Quem sabe? 
  O sinal voltou. Milhares de mensagens travam meu smartphone. Ele vibra sem parar. Estou voltando à civilização, como alguns dizem. Mas, decido esperar mais um pouco para olhar. Coloco o aparelho no silencioso. Preciso de tempo para deixar tudo sedimentar. De repente, é isso que nos falta: tempo para deixar os sentimentos sedimentarem em nossas mentes agitadas.


  

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