Sentimentos Enferrujados


De Alexandre Valério Ferreira



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Rever amigos antigos é algo bastante desafiador. É desafiador reencontrar aqueles que já fizeram parte da nossas vidas com maior frequência e intensidade. O tempo muda e as pessoas também. É normal. Será que algo ficou? É dessa pergunta que nós temos medo de saber a resposta.
  Os sentimentos parecem enferrujados. A pessoa nos da um "oi" e abraça. A mais de 10 anos que eu não a via. Não a odiava. Mas, também não a amava. Já foi um grande amigo. Agora, não mais. Por quê? Não sei. Enferrujou, talvez.
  De fato, os sentimentos sofrem com o passar do tempo. A estima por alguém se torna em uma certa apatia. As vezes, desagrado. Isso gera constrangimento nos reencontros. Falta assunto. Pior, carece de interesse por gerar uma conversa. Temos medo de reavivar antigas feridas. Ainda mais, não queremos pedir desculpas. É uma situação desagradável, estranha.
  Reencontro de turmas de colégio podem ser de tudo, menos a coisa mais normal do mundo. Com os sentimentos enferrujados, corroídos pelo passar dos anos, já não sustentam vínculos que existiam e nem reagem como antes às piadas que em eras passadas causavam tantas gargalhadas.
  Com as amizades já enferrujadas, algumas aos pedaços, o clima nos reencontros podem ser dos mais variados. Em alguns casos, parece gerar um reavivamento, quando o sentimento era sincero. Senão, isso acontece porque as feridas já cicatrizaram. Sim, amadurecemos e percebemos o quão infantis fomos e discutimos por motivos tão frívolos. Pedir desculpas é sempre bem vindo.
  Em outro casos, porém, menos felizes, a ferrugem já degenerou tanto a estrutura dos sentimentos que já não permite vínculo maior do que a formalidade. Resta apenas perguntar como a pessoa e sua família estão e o que faz da vida atualmente.
  Queria dizer que não faço isso. Aliás, desejava loucamente nunca precisar agir assim, mas, acabo sempre me comparando com os outros. Todos o fazem. Medimos o grau de "sucesso" dos outros. No fundo, desejamos que estejamos melhor que os outros ou, no mínimo, numa situação não tão ruim quanto a deles.
  A inveja e o ciúme são desgraças que insistem em corroer a tudo e a todos. Devemos sempre lutar contra ela, especialmente nos reencontros. Até porque toda comparação entre pessoas tem um caráter ilusório, irrealista, pois nunca sabemos exatamente o que o outro passou e o que sente. Nunca podemos entender plenamente se o outro está bem ou não. 
  Assim, vejo os reencontros com velhas amizades como uma faca de dois gumes. Pode ser ótimo, em alguns casos, especialmente quando amadurecemos. Mas, talvez seja desagradável, recheado de constrangimento. De qualquer forma, é inevitável que aconteça. Resta a nós saber lidar com cada caso.



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