Desapontado

Apontadores. Foto: autor.
De Alexandre Valério Ferreira



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Sim, desapontado eu estava. Depois daquela demonstração de deslealdade, não tinha como sentir-se de outro modo. Eu esperava muito dela. Nossa escrita parecia perfeita. As letras de nossas conversas eram bem definidas e construídas.
  Mas, com o tempo, algo fez com que se desgastasse. E, como a ponta de um lápis, foi se tornando mais grossa, feia, cega. Os contornos se enfraqueciam. As palavras eram ríspidas, sem tato, sem carinho. 
  A ponta daquele relacionamento foi se acabando gradualmente. Quando começou? Não deu para perceber. Quando terminou? Também não foi em uma data específica. Foi um intervalo de tempo, logo depois da sensação de estranhamento e imediatamente antes da última conversa.
  Em parte, a culpa foi minha. Não totalmente, claro. Mas, eu deixei de apontar. Decidi esperar para "amanhã". Estava sem tempo para acreditar que as coisas iam mal e que precisavam de ajustes. Estava muito ocupado para aceitar a realidade.
  Então, num dia cinza, a grafite daquele relacionamento apagou-se. Sua marca já não resistia na folha. O vento, então, a levou num sábado de manhã e nunca mais trouxe de volta. Fiquei desapontado com ela. Era culpa dela não ter lidado 
com minha culpa. Estou sem tempo para me sentir culpado.

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