Por Favor, Não Pise



De Alexandre Valério Ferreira

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Por favor, não pise no Carlos! Ele não é de aço nem de concreto. De carne e osso, seu corpo é. Ele suporta pouco. Se quebra fácil. Ele resiste pouco. Não force ele. Ele não aguenta. Tenha cuidado com ele, pois é frágil.
  Carlos dizia para todos que era fraco. Na verdade, ele não gritava isso em público, pelo menos, não com palavras falavas. Seu jeito arredio, tímido e covarde informava a todos a sua vulnerabilidade. Ao assim fazer, outros o viam com aquele desgosto que comumente nós temos dos que são fracos.
  Judiado na escola, sua presença era um hiato nas aulas. Sua existência era percebida devido à compaixão de alguns. Nestes ele encontrava suporte, uma sombra, um refúgio. Mas, acaba se grudando demais e afastando os que tentavam ajudá-lo. Ninguém gosta de chiclete no pé.
  Era difícil entender a situação. Carlos parecia boa pessoa e realmente o era. Ainda assim, parecia corroído por dentro e assim permaneceu por muito tempo. Infelizmente, quanto mais pedimos para não pisarem em nós, mais o fazem. Estranhamente, o oposto também ocorre com frequência.
  Não vi mais o Carlos. Porém, ouvi boatos. Nada bom ainda acontecera a ele. Sempre diziam que ele era um "cara legal" e nada mais. Não ouvia das pessoas alguma espécie de consolo ou ajuda que deram. Nem mesmo algum progresso da parte dele.
  Ouso acreditar que ele vai conseguir superar tal desafio. Talvez consiga se encontrar. Talvez ele sofra por dentro. Nunca sabemos a dor do outro, nem mesmo quando eles nos contam. Espero que fique bem. Espero que ele se encare um dia.



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