Janelas da Vila

Vila. Foto: Nathália Lima (editada pelo autor).
  Era um preço razoável. Em outros lugares, o aluguel era muito mais caro. E Joana não tinha muitas opções. Precisava urgentemente de uma casa para morar com os dois filhos e sua mãe. Sabia que não podia contar com o companheiro. Aliás, ex-companheiro, pois ele desapareceu faz tempo. De qualquer forma, pouca ajuda ele ia trazer. Era melhor viver só do que com um marido como o ex dela.
  Joana era uma mulher de ação. Infelizmente, se iludiu na vida e agora é mãe solteira. O emprego não era dos melhores: recepcionista de uma loja. Mas, as coisas um dia poderão melhorar, ela pensava. Os filhos eram de 7 e 5 anos. Sua mãe cuidava deles durante o dia, assim não seria necessário levá-los para uma creche. Para ajudar, sua mãe também tinha uma pequena renda devido a aposentadoria que recebia.
  Ela já havia decidido: não ia morar em casa de papelão e invadir propriedade alheia. Conseguiu um lugar nessa pequena vila. Não era o melhor dos bairros, mas dava para se viver. A vizinhança não era das melhores, mas também não era das piores. A casa também não era grande. Na verdade, só possuía dois cômodos: uma espécie de sala de estar com cozinha e o quarto. Também havia uma pequena área lá fora, mas era pequena também. Não tinha do que reclamar, o aluguel também não era tão caro.
  Mesmo com todas as dificuldades e o cansaço, ela ajudava os filhos a estudar. Não queria que fossem burros, sem educação. Eles iam para uma escola pública. Sim, ela sabia claramente que o ensino de lá era dos piores, era quase a mesma coisa que não estudar. Mas, não tinha opção. Pelo menos as crianças ganhavam livros e fardamento. Além do mais, aprendiam que tinham que se esforçar para crescer na vida.
  Por vezes, ela olhava pela janela. O que olhava? Apenas telhados. Moravam no primeiro andar do conjunto de residências e o local era elevado, só que ao redor só haviam mais casas. De qualquer forma, ela ficavam de vez em quando olhando. Milhares de pontos de luz a noite, movimento dos carros, algumas bicicletas, barulho de festas, o silêncio da madrugada, o vazio das ruas, o medo. 
  Que ela imaginava? O que ela sonhava? Talvez criasse uma imagem de uma vida em uma daquelas casas maiores. Uma família estável, quem sabe? Talvez visse os filhos em uma boa escola. Quem sabe não fosse seu passado a lhe atormentar? Porém, agora não tinha tempo. Não era rica, não podia perder tempo chorando e lamentando a vida. Tinha que batalhar todo dia. Ela não nasceu em berço de ouro e ainda fez questão de tomar algumas atitudes tolas. 
  Mas, fazer o quê? Isso a deixava triste, mas, também sentia orgulho de algumas coisas. Sentia orgulho de não ter desistido dos filhos. Alegrava-se de ter uma habitação, que mesmo não sendo literalmente dela, pelo menos por um mês ou dois, já tinha pago e não tinha quem a fizesse sair de lá. Tinha um teto que a protegia. Ainda tinha sua mãe. Esta nunca a abandonara. Sentia falta do pai, que falecera. 
  Mas, sentia que podia ir para frente, que daria para lutar. Sim, sua janela só lhe exibia um cenário urbano sem vida, com telhados e fios elétricos, mas sua mente completava com esperanças e sonhos. Espero que ela consiga alcançá-los um dia. Mesmo que não consiga todos, eu já considerava ela vencedora.



Alexandre Valério Ferreira



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