A velhinha do ônibus

Velhinha. Foto: http://2.bp.blogspot.com/-s7Ki39tPcoM/TwF0bWsHzJI/AAAAAAAABB4/1gCJpzrravs/s1600/velhinha_esperta.jpg
  Era mais um dia de trabalho e eu estava voltando de ônibus para casa. Os dias passavam de forma rápida e monótona  Todo o dia pegava o ônibus no mesmo horário e geralmente via as mesmas pessoas indo para os mesmos lugares. Cada um em seu canto, cada um com suas ideias, sonhos e ilusões. Tem aqueles que gostam de ouvir músicas e outros que gostam de dormir.
  A volta para casa parecia ser completamente normal. Costumo me sentar nos bancos do meio do veículo. Os idosos sentam-se nos bancos da frente, próximo do motorista. Para quem não sabe, aqui a catraca fica na parte de trás do ônibus e nós descemos pela porta do motorista. Os idosos também entram por esta porta e possuem cadeiras reservadas para eles.
  Tudo corria como sempre, até que entrou uma excêntrica velhinha. Porque ela era excêntrica?  Porque ela entrou animada, para começo de conversa. Tem gente idosa que só fala sobre doença e se comporta como se tivesse sempre doente. É, eu sei, geralmente eles estão de fato bem debilitados. Mas, admita que ficar falando apenas sobre isso não ajuda muito.
  Esta senhora usava um vestido cheio de estampas de flores e usava um belo chapéu  com vários detalhes. Não usava bengala, mas sim um belo guarda-chuvas de uma cor vibrante. Seu "bom dia" para o motorista foi sincero. Ela entrou cantando. Não sei que cantiga era aquela, mas ela parecia estar feliz. Não precisava de um iPhone ou celular. Talvez preferisse cantarolar suas canções a apenas ouvir melodias gravadas.
  Sim, eu sei, ela chamou atenção das pessoas. Como você já deve imaginar, nem todos gostaram. Assim como eu, você já conheceu pessoas carrancudas e de mente fechada. Qualquer pessoa mais animada e brincalhona já é considerada exibida ou estranha. Este tipo de gente cria um "padrão" que é impraticável. Costumam exigir perfeição dos outros. 
  Bem, isso tem predominado em nossa sociedade, onde as pessoas reclamam de tudo, mas não fazem nada. Vivem processando, debatendo, exibindo seu vocabulário e sua raiva. Não entendo esse povo. 
  A velhinha estava animada e não parecia se importar para aqueles olhares condenadores ou espantados. Ela estava feliz. Afinal, estava viva, estava relativamente bem e podia pegar o ônibus de graça. Além disso, talvez tivesse um família grande e diversificada. Acredito que seus netos gostem muito desta senhora. Quem sabe? Não conversei com ela e nem poderia, pois ela desceu alguns minutos depois. Disse um forte "obrigado" e desceu feliz.
  E assim prosseguiu o ônibus. Os passageiros tomando seus rumos, descendo nos mesmos pontos, dizendo os mesmos "bom dias" e "obrigados", ouvindo as músicas mais populares, cantando cada vez pior, entendendo cada vez menos uns aos outros. E onde estaria aquela velhinha? Espero que esteja bem. Gostei dela. Ela parecia ser bem jovem.



Alexandre Valério Ferreira




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