Diário da Amazona

Amazona. Foto: Kassiely Teixeira.
  Eu nasci no interior do Tocantins. Morei numa pequena cidade, não tinha nem 8.000 habitantes. O forte da cidade era a agropecuária. Exato, não faz muito sentido não é? Uma região urbana cujo maior sustento os produtos do campo. Por isso, sempre considerei minha terra natal como um ambiente rural. A vida era tranquila e pacata. Novidades eram poucas, só as belezas da natureza mesmo que nos encantavam.
  Aprendi cedo o amor por cavalos. São criaturas muito formosas. Sempre associo eles com elegância. Eles são belos e muito fortes. Costumam não ser muito difícil de domá-los e podem ser tão fieis a seus donos quanto os cachorros, conhecidos por muitos como "melhor amigo do homem". 

Campo. Foto: Kassiely Teixeira.
  Para mim, o cavalo era nosso melhor amigo. Afinal, eram eles que por muitos séculos foram nosso principal meio de transporte e sustento. Triste notar que alguns se esqueceram do grande papel dessas criaturas poderosas na vida humana.
  O campo estava muito presente em minha vida. Em Tocantins é comum vermos enormes plantações que se perdem no horizonte. Verde para todos os lados. Espaço aberto, muito espaço. Era inevitável, portanto, ter uma sensação de liberdade. 

Entardecer. Foto: Kassiely Teixeira.
  Ah! Como é bom se sentir livre. Esse sentimento era acentuado quando eu galopava. A brisa forte em meu rosto. O cheiro do verde. A natureza ao meu redor. Aquela máquina viva e elegante me transportando entre sonhos e campinas. Nunca me esqueço.
  A vida aqui era maravilhosa. Mas, tinha alguns poréns  Não haviam muitas escolas e a qualidade não era das melhores. Além disso, cursos e faculdades só haviam em cidades maiores. Triste foi saber que em meu estado, as opções eram poucas. 
  Na verdade, somos fortemente influenciados por cidades maiores, como Brasília, Goiânia, Belém e Fortaleza. Como meus pais queriam melhor educação para mim, acabei indo para uma delas. Fui para Fortaleza.
  Foi uma mudança drástica, uma loucura em si. Era tudo bem diferente. O concreto e o asfalto predominava. Havia muitas lojas, prédios e condomínios. O verde, predominante em minha infância, se tornava pontos cada vez mais escassos. Deixavam de ser dominantes e se tornaram apenas adorno para algumas residências e comércios. Não sabia como seria viver ali.
  O tempo aqui era diferente. O relógio deixou de ser adorno para se tornar elemento fundamental. Não dá para viver aqui sem saber a hora: a hora da escola, do trabalho, da apresentação  do ônibus, do cinema, de tudo. Tudo tem uma hora. Apesar de que muita gente costuma não ser dos mais pontuais, esse pequeno aparelho exerce enorme influencia na vida urbana.
  Como eu fui de avião, a mudança é mais brusca. Para começar, o clima era diferente. Aqui é região litorânea, mas é quente também. Tem uma brisa maravilhosa, mas costuma ter um calor abrasador. Sinto o ar diferente. É mais sujo. É a poluição. Os carros são um dos maiores poluidores do planeta. Eu sei que perdem para as vacas. Mas o problema é que é muito gás poluente em um ponto só. Isso faz muito mal para nossos pulmões.

Natureza. Foto: Amazona. Foto: Kassiely Teixeira.
  Admito que aqui tem muito mais opção do que no meu interior. Aqui tem muitos cinemas, praias, shopping center e outras formas de diversão. Há universidades públicas e particulares. E tem colégios em todo lugar. Sem contar os diversos cursos profissionalizantes. Isso tudo é muito fácil de se achar. Se bem que o ensino fundamental das escolas públicas não é dos melhores, mas das particulares é de maior qualidade.
  Olhando pela janela, continuo sentindo uma agonia, um pequeno vazio. Algo me faz falta. Sinto saudades dos campos verdes, do banho no rio, do pôr-do-sol tranquilo, das andanças com os amigos. Aiai... Pensei que podia banhar nos rios daqui. É doloroso ver que muitos estão completamente contaminados...

Rio. Foto: Amazona. Foto: Kassiely Teixeira.
  Sinto falta do meu cavalo. Esses "cavalos" mecânicos, os carros, são tão sem graça. Não tem vida, não tem sentimentos. São gelados quando desligados e muito quentes quando ligados. São poluidores: liberam gases nocivos e consomem muitos pneus, cujo tempo de decomposição é indeterminado. Os cavalos por outro lado, liberam adubo e seus "pneus", as ferraduras, são materiais que não demoram muito para se decompor na natureza.
  Sim, um pedaço de mim não está aqui. Apesar de alguns anos na metrópole, sinto que não sou daqui. Alias, não sou! Estou aqui em corpo, mas minha mente está lá em TO. Sou do Tocantins. Sou do campo. Sou do interior e não nego. Não tenho vergonha da minha origem. Não tenho vergonha de dizer "UAI". Falo assim e pronto. Mas... um dia eu volto... Um dia eu estarei de lá de novo, cavalgando entre sonhos e campinas.



Em homenagem a uma amiga, 
Alexandre Valério Ferreira





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