Um pouco de cinza

Chuva. Foto: autor.
  Alguns costumam associar chuva com tristeza. Certamente, esta pessoa não mora no sertão brasileiro. Provavelmente mora em uma região fria, que possui quatro estações regulares e ainda tem água encanada. Neste caso, talvez uma tempestade seja sinal de congestionamento no trânsito, impossibilidade de ir para um evento ou ocorrência de alagamentos. Bem, para tal situação, faz sentido ficar triste ao ver chuva.
  Porém,  o cinza é uma cor bonita do ponto de vista do sertanejo. Essa cor trás mais esperança que o azul. Azul é característica de um céu sem nuvens, sem esperança de chuva. Chuva é água e água é vida. Vida para as plantas, animais, rios e açudes. Vida para os peões, pastores e agricultores. Vida acostumada às intempéries. A seca é o grande medo, porém uma das grandes rotinas do sertão central.
  Claro que eles sabem que o grande problema não é a seca, mas a cerca. Sim, o cinza do arame farpado é o divisor de águas: os que tem e os que não tem posses. Os donos dos açudes, dos rios e das matas verdes. Pobre era o pobre que depende apenas de sua plantação. O solo nem sempre é bom. Poderia produzir bem mais, mas isso depende da chuva. A água da vida em todo lugar. O problema é obtê-la.
  Assim, o pequeno agricultor, vivendo em uma cinza realidade, observa o céu azul a espera de um pouco de escuridão. Não a escuridão da tristeza, da morte. Muito pelo contrário, a esperança é aquela escuridão da chuva, aquele forte vento frio que sinaliza que uma forte chuva se aproxima. Chuva é água e água é vida. O cinza é chuva, portanto, o cinza também é vida.



Alexandre Valério Ferreira



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