O cacto

O Cacto. Foto: AUTOR.

    Era um jardim. Mas não tinha nenhum luxo, nem irrigação automática e nem um jardineiro dedicado ao local. Era só um jardim em um quintal de uma casa na periferia da metrópole. Como toda boa periferia, a maioria dos que nela habitavam não possuíam muito dinheiro. E no caso deste jardim, o dono seguia o padrão da região.

   Perdido entre os jarros, contrastando-se com as flores, havia um pequeno cacto. Sim, não tinha nem 10 centímetros de altura e seu jarro (se é que se podia chamar aquela caneca de jarro) era bem simples. Logo ele virou motivo de chacota. Pobre cacto, nem flores tinha; só espinhos. E para quê os espinhos? Nem ele sabia. Ele não tinha nada de especial, pensava.

   Quanto às outras flores, notaram aquele cacto. Faziam brincadeiras com eles todos os dias. Mas porque o tratavam assim? E porque alguém desejaria cultivar um pequeno cacto, se tinha tantas flores belas e coloridas? Realmente, sentido não fazia.

   Pobre cacto, não entendia porque tinha aquele caule estranho. Não dava flores, não tinha folhas e era rodeado de espinhos. Todos se aproximavam das flores para tocá-las, sentir sua textura e seu perfume. Mas e o cacto? Quem ousaria se aproximar daquela planta espinhenta e se ferir? Ninguém. É, ele achava que não era nada. Sentia inveja das flores imperiosas; sonhava um dia ser uma delas.

As flores. Foto: AUTOR.

   Bem, mas como tudo nessa vida muda, a situação dele logo havia de mudar. Um dia, os moradores viajaram e passaram dias fora. Porém, esqueceram de mandar alguém regar as plantas. Evidentemente, elas começaram a desfalecer. A cor verde dava lugar ao amarelo e preto. Estavam morrendo. Os botões de rosa caiam no chão. 

   Mas, espere! O cacto, diferentemente, estava bem e sede não sentia. Que era aquilo? Sim, ele era uma planta de desertos e, como tal, armazenava água para tempos de estiagem. Além disso, possuía espinho para se resguardar de predadores que desejassem roubar sua água. Realmente, tudo muda nessa vida.

Alexandre Valério Ferreira