Ouro de Tolo

Cândido Portinari. 

  Foi uma tragédia anunciada. Eu já sabia. Só não percebi que eu já sabia. Demorei demais para me acordar, para enxergar. Cegueira. Estava cego e só via uma tremenda mentira. Ilusão: uma mentira que nos cria expectativas.

  Eu parecia uma alquimista. Não me refiro à parte da magia, mas da procura constante pela pedra filosofal. Eles achavam que existiam alguma substância que conseguiria converter outros metais em ouro. Que tolice!

  O que estou falando? Tolo sou eu! Eles erraram em procurar essa tal pedra mas acabaram descobrindo diversas coisas que dariam base para o estudo da química. E eu? Fui acreditar que aquela pessoa era especial. Por quê?

  Expectativas. Criei planos demais. Sonhos demais. Foi, eu me enganei. Não foi culpa de ninguém. Só minha. Aquilo não era ouro, mas eu insisti em acreditar que fosse. Parecia um esquizofrênico, vendo o que não é. Não, não era especial. Especial era apenas aquela imagem que criei. 

   Ouro de tolo. Triste desilusão. O brilho era igual ao do ouro. A densidade parecia ser a mesma. Tudo era igual menos o fato de não existir nenhuma gota de ouro. Fui um ignorante. Ceguei propositalmente meus olhos. Trágico.

Alexandre Valério Ferreira