Prisão domiciliar

Gaiola. Fonte da foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA21SivsxmNju82DqvgE0N75BIdwQQw052J3I8XE0FGodKuQEF4ct928GSv26gZF6ZyjZPJAN9zp9KYOAFbvcSr3gBJxjal6cWXY5BQ1WUByEV5pJqObLec_zufWeGsCIhwsSLhBjrVzA/s1600/gaiola+francine.jpg

  Era uma vez um vilarejo. Na verdade, era um loteamento. Todas as casas eram iguais. Todos tinham o mesmo padrão, com aqueles muros de 1 metro. O local era tranquilo, a vida era tranquila e os vizinhos, simpáticos. De fato, todos se conheciam. No final da tarde, era comum as crianças irem para as ruas brincarem, enquanto seus pais as observavam e conversavam uns com os outros. Sim, era uma verdadeira comunidade.

  Mas, como tudo na vida muda, aquela pequena sociedade também mudou. E as mudanças foram boas? Posso dizer apenas que nem tudo que é "bom" pode ser considerado BOM de verdade. Muitos adquiram fortuna. Computador, que era novidade, uma verdadeira raridade, já estava se tornando comum entre eles. As crianças deixaram de ser crianças e se tornaram adolescentes e adultos.

  Assim, aqueles antigos colegas de rua foram perdendo o contato. A sociedade exigia cada vez mais estudo, conhecimento, informação que beneficiariam eles a se tornarem bons funcionários para o sistema existente. Não tinham mais muito tempo para brincar ou conversar na rua. Pra que? Afinal, eles tinham TV a cabo e internet. De fato, as ruas começaram a ficar vazias.

  A insegurança era crescente. O medo passou a sobrepujar a liberdade. Assim, os muros cresceram mais rápido que as crianças, atingindo alturas medievais. Sim, parecia que cada casa estava se tornando castelos, rodeados por muros enormes, cercas pontiagudas e eletrificadas. E, as pessoas, a procura da segurança e se livrar do medo de assaltos, aceitaram a condição de viver trancafiados. 

  Não se via mais crianças nas ruas. Se visse, era uma raridade e, como eram poucas, dava cada vez mais medo da insegurança. Visto que os vizinhos não se conheciam mais, ninguém ligava para a vida do outro. Também, era impossível saber, pois as casas eram mais fechadas do que as cadeias! Isso facilitou a vida dos criminosos, que ao invadir uma casa, não eram notados pelos outros moradores. Muitos instalaram câmeras para vigiar a casa pela internet, o que é algo incrivelmente ridículo, pois se fossem uma comunidade, não seria necessário.

  Sem se aperceberem, aquela pequena "comunidade" havia se tornado um reflexo da sociedade. Eles não se tocaram, mas agora estavam em prisão domiciliar. Afinal, para sair, só caso fosse necessário. Alguns carros eram blindados e as casas, vigiadas por seguranças e câmeras. Era evidente as similaridades entre aqueles "castelos" feios e as penitenciarias. E, assim, prosseguia a vida.

Alexandre Valério Ferreira