Diário do Navegador da Gruta do Talhado
Gruta do Talhado. Foto: Autor. |
Hoje
é mais um dia de atividades. Nessa época do ano tem muitos turistas. Espero
ganhar uma renda a mais. Saímos de Piranhas, Alagoas. Pegamos carona até o um
local a montante da represa da usina hidrelétrica de Xingó. Sempre fico
impressionado com a imensidão desta usina, que tem uma barragem com cerca de
140 metros de altura. Vamos então de barco, indo na contramão do rio São
Francisco. Rodeado de paredões, passamos sobre trechos nos quais a profundida
chega a 150 metros! Mesmo sabendo nadar, não me garanto a pular aqui.
Plataforma. Foto: Autor. |
Enfim,
chegamos a uma plataforma construída numa em uma gruta. Os paredões de cor
laranja rodeiam o local. O silêncio é maravilhoso. Assim que chegamos, analiso
a condição do pequeno barco azul. Coloco os remos na posição e fico esperando a
chegada dos turistas. Costumamos cobrar R$ 3,00 por pessoa. Levamos oito
pessoas, dependendo do peso delas, é claro.
Gruta do Talhado. Foto: Autor. |
Você
poderia pensar que os meus dias de trabalho são sempre iguais, pois meu
percurso é sempre o mesmo: remo até o final da Gruta do Talhado e então retorno
para plataforma, percurso este que não passa dos 200 metros. O salário também
não é dos melhores. Mas,
vou te dizer a verdade: nunca é a mesma coisa. Por alguma razão maravilhosa, o
rio São Francisco e a Gruta do Talhado sempre me surpreendem. As tonalidades de
cores do rio nunca são exatamente as mesmas. Seu brilho vivo, verde cintilante,
é deslumbrante. Como uma artéria no corpo humano, o São Francisco dá vida ao
sertão nordestino. Não só vida, mas alimentam várias usinas, fornecendo energia
para milhões de pessoas, algumas a milhares de quilômetros daqui.
Gruta do Talhado. Foto: Autor. |
A
gruta possui diversas tonalidades, que podem variar de acordo com a posição do
sol e a condição do clima. Mas, posso ressaltar que é sempre lindo. As figuras
talhadas na rocha parecem vivas, parecem únicas a cada dia. Seria loucura da
minha mente? Não sei. Você poderia ir lá, confirmar para mim.
Os
turistas chegam, então. E, como sempre, ficam maravilhados, tirando centenas de
fotos. Fico triste é que alguns se esquecem de VIVER O MOMENTO e ficam apenas
fotografando. Porque agem assim? As fotos são excelentes, mas não há nada
melhor do que estar lá. Depois de percorrer o interior da gruta, paramos no
final. É um momento de reflexão. O silêncio é ensurdecedor. A beleza,
inigualável. Daí, voltamos para a plataforma. Ao final do dia, somos
presenteados com um belo pôr-do-sol. Recebo minha diária. Dá para sobreviver.
Quero chegar cedo, os braços estão cansados. O bom é que não preciso gastar com
academia. Vou dormir para começar tudo de novo amanhã.
Alexandre Valério Ferreira
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