Janela de Taipa
No meio do sertão, no meio da seca, havia uma casa de taipa. E por que era de taipa? Porque é o que ele podia fazer. Dinheiro não tinha. Ele [sobre]vivia da agricultura. Mas o solo não era bom, não era fértil, nem mesmo extenso. Ele tinha alguns animais, porém, costumava vendê-los, principalmente na seca. Na seca não tem chuva, nem plantação, nem rio, nem capim. Do que os animais iam sobreviver, se mal dava para manter ele e o estômago dele?
O solo era raso e tinha muitas rochas. Na verdade, parecia haver mais pedra do que areia... Assim, com algumas ripas de madeira, argila e pedras polidas (que são fáceis se encontrar), ele construiu aquela casa. Não era grande, pois não encontrou madeira suficiente. Nem possuía muitas telhas para que se pudesse cobrir mais um cômodo. Mas dava pra se proteger da chuva (que chuva? se proteger do sol, talvez...).
Da janela de taipa ele olhava a vida. Aqui e acolá, passava alguém. Geralmente, estavam transportando água ou levando algum animal para vender ou beber água no açude. Ele então pensava na água. Tão simples, sem cor, sem cheiro, mas que fazia brotar a vida, tornando verde tudo a seu redor. Ah, se ele tivesse um açude, se por sua terra tivesse um rio ou riacho. Mas, essa não era a realidade. Do que adiantava então pensar?
De fora, a casa de taipa é símbolo de pobreza. Não é mera impressão; é a realidade. Mas, apesar de tudo, de toda sua fragilidade, ela o resguardava do calor do sol e dos perigos da noite. E um dia no horizonte ele vizualizava nuvens cinzas. O cinza é uma cor bonita nessas horas. É sinal de chuva. Chegando a chuva, chega o verde e com ele, a esperança de mais uma colheita. Talvez, de um futuro melhor também.
Alexandre Valério Ferreira
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