O Chatonildo

O grito, Edvard Munch.

Chatonildo era um cara chato, irritante, insuportável. Ninguém gostava do Chatonildo, nem mesmo sua mãe, que o amava. Chatonildo irritava seus colegas com atitudes chatas. Chatonildo era excêntrico, econômico e estudioso. Não tinha amigos e nem mesmo redes sociais (ele criou um perfil, mas nem seus pais aceitaram o convite dele).

Chatolnido era do tipo da pessoa que não sabia agradar os outros. Até tentou, mas não foi bem sucedido. Ele não se divertia em festas e não gostava de praias. Preferia ficar em casa sozinho, pois dizia que lá se sentia menos solitário. Chatonildo conseguiu um emprego, conseguiu um carro, conseguiu uma casa, só não conseguia felicidade. De repente, alguém gostou de Chatonildo.

Ela era gentil, meiga, educada e muito amigável. Tinha vários amigos. Realmente, leitores, eles eram muito diferentes. Os amigos dela não entendiam porque ela queria se casar com um cara daqueles, um chato de galocha. Nem ela entendia. Chatonildo continuava sendo um chato. Entretanto, ela insistia em dizer que aquilo era só uma casca, uma concha, e que dentro dela havia alguém frágil e carinhoso. 

Então, ela descobriu que Chatonildo era deprimido. Chatonildo não se amava, vivia desejando desaparecer do mundo. Isso não era normal. Era depressão. Chatonildo não era infeliz, Chatonildo era doente. Chatonildo então decidiu se tratar. Não, na verdade, ela decidiu que ele devia se tratar. Agora, Chatonildo está casado, continua chato e tem uma filha, a qual ele insiste de chamar de "minha alegria".

Alexandre Valério Ferreira