O cobrador de ônibus - o começo

Trocador (cobrador) de ônibus. Foto: internet.

        Era uma tarefa relativamente simples. Deveria apenas receber o valor da passagem e permitir a entrada dos passageiros. Era um trabalho com menor salário que o motorista, mas tomava conta daquilo que sustentava a empresa: as taxas de transporte. Queria outra profissão. Sempre sonhei ser um veterinário. Bem, por enquanto não dava. Descobrir que a outra profissão era mais tranquila.

      Apesar dos poréns da profissão, achava interessante poder ver as mais diversas pessoas passar por mim. No começo, quando eu estava animado, dizia "bom dia" para todos os passageiros. Eu gostava disso. Entretanto, o motorista que trabalha junto comigo dizia que eu era doido ou talvez quisesse exibir uma falsa gentileza. Isso era mentira. Mas fiquei com medo de as pessoas realmente pensarem isso. Então decidi parar.

     O olhar do cobrado de ônibus é diferente do passageiro comum. Para começar, pela minha posição no ônibus. Aqui em Fortaleza, as cadeiras dos cobradores são perpendiculares ao eixo do ônibus, ou seja, do meu ponto de vista, o ônibus anda de lado. Nos primeiros dias isso foi muito estranho. Fiquei até tonto. 
  Mas, como tudo na vida, acabei me acostumando com a situação. Outra peculiaridade do cobrador é que a grande maioria dos passageiros tem que passar por nós. Quase todos não me olham no rosto. eu sei que não sou dos mais belos, mas também não sou um monstro. 
  Seria o quê, então? Timidez? Medo de não saber o que dizer? Vergonha de dizer "bom dia" para mim e os outros acharem que é gentileza fingida? Não faço a menor ideia do que se passa pela mente dessas pessoas. Ainda serei veterinário, tenho fé! É muito mais fácil e previsível!

       Demorei a notar que minha função tem um estereótipo negativo. Afinal, eu sou o COBRADOR, eu cobro, "exijo" da pessoa um pagamento pelo serviço que prestamos. Sim, aqueles profissionais que são caixas, atendentes e cobradores aparentam receber uma responsabilidade muito superior ao que é pedido no contrato de trabalho. Acabamos nos tornado representantes da empresa. Não somos pagos por isso. É osso, meu amigo. Mas, vamos levando... É a vida...

Alexandre Valério Ferreira