Disco de Vinil

Vinil. Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPHSip5GtsjtdM1JT0IFqKHfbRlml-WKXRrwXJuQgQoZVzUxVtiAg28ys5Y72yveHLRxOYCABCJAWh2gp6_s2XiDxjvawiOxmfx3fp_YhO_8kx5YFlH20fxOeIv9NBd9cecICH_st2byU/s640/tumblr_lz4udgRwnH1qcq4ago1_500.jpg
  Era segunda-feira, mas não parecia ser uma outra semana que começava. Ao invés disso, parecia ser a mesma segunda-feira da semana passada. Para ser exato, as mesmas segundas-feiras dos últimos três anos. 
  A sensação era de prisão. Uma cadeia temporal. Não possui grades nem cadeados. Mas, é mais resistente do que qualquer um desses seres materiais. É mais profunda, porque estava na mente. A mente estava trancada. Aparentemente, sem solução.
  Um dia, numa feira pude avistar uma loja de antiguidades. Haviam diversos aparelhos de rádios , relógios com pêndulo, cadeiras de madeira bem trabalhadas, entre outros. Entre eles, vi um belo gramofone. Pedi licença para o dono e peguei um disco de vinil com melodias de Bach. 
  As melodias me encantavam. Mas, justo enquanto tocava "Prelúdio e Fuga em mi maior", as notas começaram a se repetir. Estaria o pianista fazendo uma adaptação da obra original? Não, não estava. O disco estava travando. Havia um arranhão. Ouvi um suspiro de decepção do vendedor e me ofereceu por um valor 5 vezes menor. Não prestei atenção. 
  Na verdade, eu estava atento ao que aconteceu no gramofone. A agulha dava algumas voltas nos sulcos do vinil e depois retornava para o mesmo ponto. Era um arranhão. E a melodia não saía do mesmo tom. E por causa dessa repetição exaustiva, perdia-se a beleza que o disco ainda tinha a oferecer...
  Retirei a agulha. Peguei o disco. Paguei. Agradeci ao vendedor. Coloquei o disco na estante. Bem de frente para minha cama. Do lado de alguns livros e do porta-retrato de uma viagem que fiz a muito tempo.
   Não tenho aparelho que toque vinil. Nunca mais ouvi aquele disco. Mas também nunca mais deixei que minha vida se tornasse uma repetição de uma nota só. Não permiti mais que o orgulho, o medo e a dúvida me trancassem num arranhão que impedia que a melodia prosseguisse. Acordo e vejo aquele disco. Não ouço nada, mas minha mente sempre toca aquela bela composição de Johann Bach.


Alexandre Valério Ferreira




Comentários

  1. Amei..... da onde você tira isso? amei o fato de você dá ilustrações pra chegar ao ponto certo. Pronto eu aprovei . By: Josi

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