Janela Colorida

Vitral do Theatro José de Alencar. Foto: autor.
  Seria um quarto comum, se não fosse pelo vitral que nele havia. Era bonito, diferente. Não tinha uma figura específica. Seria uma obra de arte moderna? Não sei. Não sei muito disso. Só sei que era interessante e que aquele cômodo exótico veio a ser meu quarto. A casa era antiga, mas não era tombada pelo IPHAN. Não era para tanto. 
  Bem que minhas manhãs poderiam ser comuns. Que havia de especial o fato do sol nascer todo dia? Era tudo do mesmo jeito. Era isso o que eu pensava, até me mudar para essa residência. Que havia de especial além da janela? Nada. Pelo menos era isso que eu pensava, era assim que eu agia. Sentia raiva de mim mesmo. Porque eu não me impressionava com as coisas? Parecia que minha vida era cinza. Parecia que todos os dias eram rotineiros. Eu não me surpreendia com as coisas.
  A primeira noite foi comum. Entretanto, acordei atrasado e fui às pressas para o trabalho. Cheguei cedo, mas muito cansado e estressado. Logo fui deitar. Pretendia acordar cedo na manhã seguinte. Ai algo me surpreendeu. De manhã, uma luz forte batia nos meus olhos e me obrigavam a acordar. Eu, antes de abrir os olhos, já estava pensando em comprar uma cortina para deixar meu quarto escuro. Porém, ao me acordar, tive uma visão incomum. Parecia um sonho. Todo o quarto estava um verdadeiro arco-íris, cheio de cores e tonalidades. Nunca vi nada igual. Parecia até uma aurora boreal (coisa que só vi na TV).
  E qual era a origem de tal fenômeno incrível? Era o bendito vitral. Visto que a janela foi feita direcionada para o leste, quando amanhecia a luz solar diretamente na direção da cama! Como o vitral era feito com vidros de diversas cores, assim era formada diversas tonalidades no quarto. Gostei bastante. Acabei perdendo tempo e me atrasei para o trabalho. Mas, eu estava feliz. Engraçado aquilo! E o melhor: todo dia ia ser assim.
  Na verdade, como a posição da Terra muda um pouco no decorrer do ano, o sol "mudava" um pouco de direção que nascia. Claro, era sempre do lado leste, mas não exatamente na mesma rota. Nunca me toquei para isso. Passei então a estudar sobre astronomia nos meus horários vagos. Também passei a fotografar o meu quarto ao amanhecer. Nunca gostei de fotos, pelo menos até esse momento. 
  De repente, eu me senti melhor. Notei que dava valorizando aquele pequeno fenômeno e com isso aprendi várias coisas. Achei isso engraçado. Quando penso, começo a rir. Sei lá. Acho que sou louco. Talvez seja. Quem não é? Os dias continuam normais. A vida não mudou muito, mas aprendi que podemos mudar e começar a valorizar coisas pequenas, basta dar uma oportunidade.


Alexandre Valério Ferreira




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