Metamorfose do livro

Livros. Fonte da foto: http://odontodownloads.blogspot.com.br/.

   Eu estava no terceiro ano do ensino médio. Era um período difícil: preparando-me para o vestibular no final do ano. Na época, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) não era considerado nos testes para as universidades públicas. Bem, como era de praxe, haviam em torno de 10 livros literários que deveriam ser analizados, pois poderiam cair questões sobre eles nas provas.
   Dentre os livros, havia um bastante extenso: O GUARANI. Escrito por José de Alencar, cearense, esta obra continha quase 500 páginas! Escrito na época em formato de folhetim, o livro conta a história de Cecília (Ceci) e Peri (índio goitacá). Cecília é filha de um português que possuíam uma pequena fortaleza no interior do Brasil. Peri era um índio super-herói. Tinha habilidades incríveis, similares a heróis americanos como o Vingador. A história tem um final romântico e trágico.
  Como é possivel notar, o estilo literário predominante é o romantismo. Eu não era fã de livros românticos (ainda não sou...). Além disso, eu estava cansado (vestibular, provas), pois havia muitas coisas para estudar (muitas mesmo!). Até mesmo nas "férias" de julho, haviam cursos e aulas extras. Não tinha jeito, tinha de ler essa bentida obra literária...
  Eu já lera parte do livro, dois anos antes no primeiro ano do ensino médio. Não cheguei nem mesmo a metade, de tão entediante que eu achava a texto...E agora? Bem, programei-me nas férias para reservar cerca de 1 hora por dia para ler. Assim, começou a saga de um livro extenso de um estilo que não gostava, em uma fase estressante, cansativa e desanimada da minha vida. Realmente, imaginava que seria uma tortura.
  Entretanto, as coisas não ocorreram como eu esperava. Por alguma razão desconhecida, passei a gostar bastante da leitura. Pareciam aquelas novelas ou seriados nos quais esperamos ansiosamente pelo que ocorrerá no outro episódio (no caso, na leitura do próximo dia). Mas, como podia uma coisa dessas? Não achava um obra chata e sem graça? 
 Achava, mas nesse momento da minha vida, eu acabei me envolvendo bastante com o texto, visualizando as cenas. Sim, o livro teve um outro significado nessa segunda leitura. Acredito que era uma válvula de escape. Quebrando a regra dos meus dias, onde a preocupação era estudar muito, ter muita informação e estar bem preparado para o vestibular, o livro pintava uma situação irreal, fantasiosa, divertida, cheia de natureza e no passado. Talvez seja por isso que eu tenha gostado.
  Dessa forma, consegui terminar em uns 18 dias. Engraçado que, ao retornar às aulas, uma professora de literatura, comentando sobre o que achou do livro, disse ter tido a mesma sensação que eu. De fato, um livro nunca é o mesmo. Parece que a cada leitura, a mesclagem das ideias do autor com nossas novas experiências e situações, fazem com que sintamos que não estamos fazendo uma releitura, mas sim, começando um novo livro.

Alexandre Valério Ferreira

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