Diário do carteiro

Carteiro. Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2D_gIq-UlZbxuvA0X2imrR8vkxis0S2egets5Bc9KlZGdRh41s1MHtm1OCgNjbgnpGLCOfMvnqmoWP3hlrT6j_h6GG0IxzBFVrN9M7eNB6IZ_g0WjEcqTfimyd-kFD0JvJMWtY2SqWGpb/s1600/carteiro.jpg
  Eram por volta de 10 horas da manhã. Na esquina, vinha um carteiro. De calça azul e camisa amarela, ele segurava uma pequena mala contendo centenas de cartas. Haveria alguma para mim? Nunca recebi uma carta antes. Mas, meus primos do interior prometeram da última vez que fui lá que me enviariam uma correspondência. Telefone é coisa nova. Só rico tem.
  A vida do carteiro é interessante. Atravessando ruas e avenidas, por todos os cantos da cidade, ele distribui sonhos, amores, alegrias, tristezas, presentes e dívidas. Sua vida e seu trabalho envolve basicamente interligar pessoas. Não literalmente, claro. Não aproxima fisicamente as pessoas. Porém, ocorre algo maior que isso. 
  As pessoas se aproximam emocionalmente. Talvez seja tão importante quanto fisicamente. Afinal, quem nunca teve a sensação de estar solitário mesmo rodeado de pessoas. Como dizem: "sozinho na multidão". Mas, a comunicação por cartas serviu, durante muito tempo, como o principal mecanismo de contato entre pessoas distantes.
  O carteiro levava toda essa responsabilidade social em suas costas. Andava vários quilômetros por dia. É necessário muito preparo físico. Além disso, é necessário esperteza e criatividade. Por quê? Porque é comum as pessoas escreverem errado os endereços. 
  O número da casa ou do CEP costumam ter algum erro. Nestes casos, o carteiro precisa perguntar ou ter noção do mapa da região. Não é para menos, que os carteiros ficam por um bom tempo na mesma área. Assim, tem familiaridade com o local.
  Fico imaginando nas coisas que o carteiro ver por ai. Quantos sorrisos daqueles que esperavam uma correspondência a muito tempo. Talvez veja choro, como naquelas cartas informando óbito de um parente distante. Pode ser que ele enxergue muito rostos estressados e desanimados ao recebe suas contas a pagar. Realmente, a visita do carteiro pode mudar o dia de alguém.
  Os carteiros continuam bem conhecidos. Sua reputação ainda é boa. Mesmo com o desenvolvimento da comunicação digital, o uso de cartas ainda tem um grande papel na comunicação social. Claro, a tendência é diminuir o número de cartas e aumentar o numero de produtos comprados pela internet. Talvez o perfil do carteiro mude um pouco. Mas, nunca deixará de ser uma ponte social.



Alexandre Valério Ferreira



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