Banho de chuva

Pardais banhando na chuva. Foto: http://viverdeeco.com/2011/08/17/passaros-tomando-seu-banho-de-chuva/

 Depois de meses sobre um calor abrasador e fortes ventanias, o tempo no nordeste começava a mudar. O dia anterior foi especialmente quente e abafado. Mas, hoje amanheceu com uma cara nova. 

   Um vento forte e frio começou repentinamente e, com ele, uma enorme massa cinza vinha do leste. Era chuva! Em alguns lugares do mundo, talvez ninguém se animasse, mas aqui, em Fortaleza, era fonte de grande alegria.

     A forte ventania balançou as árvores e assustou as donas de casa. Estas, rapidamente correm para os seus quintais para retirar as roupas que estavam secando. Elas estão preocupadas em não deixar nada ficar molhado. As crianças, por outro lado, começam a se animar: é a chance de tomar banho de chuva. Até os meninos que não gostam de banhar (coisa rara no sertão), já estão esperando o momento incrível que é a chuva chegar! Sim, não existe nada mais incrível que ver aquela montanha d'água se despencando gradualmente, como se fosse um enorme regador se movimentando em nossa direção.

   A rua, antes tranquila e poeirenta, de repente se torna um rio. É água que não acaba mais. Preocupação para alguns, alegria para as crianças. Elas correm loucamente, banhando-se no chuveiro da natureza. Um chuveiro sem custo. Qual a graça de se pular na lama? Qual a alegria que se tem por se molhar numa "biqueira"? Não sei. Mas, sei que lembro desses tempos com nostalgia.

   Não eram só as crianças danadas que se animavam com a chuva. A natureza, que lutava para sobreviver na selva de pedra humana, parece recuperar suas forças. Basta um pouco de chuva para que as plantas fiquem mais verdes. Tudo enche de vida. Felizes estão os pobre pardais. 

  Sobrevivendo apenas de poucos goles de água que raramente encontravam nos dias quentes, agora tinham abundância de água. Podiam até se banhar. Até eles estão brincando! Não só brincando, mas comendo também. Nunca se vê tanto inseto como no inverno.

   Sim, o inverno trás de volta a vida e a esperança. O frio é algo raro no sertão. Esta sensação térmica é quase um luxo. Portanto, é inevitável um sorriso no rosto ao observar o céu se cobrir de cinza, não de azul. Engraçado que aqui, quando o tempo começa a tomar forma de que vai chover, as pessoas logo dizem: "o céu está bonito".

Alexandre Valério Ferreira