Viajante ou Turista?

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VOCÊ gosta de viajar? Dificilmente encontraremos alguém que não tenha prazer em visitar novos lugares. Muitos só não o fazem com mais frequência devido à responsabilidades familiares, trabalhistas ou por falta de recursos. Alguns ficam em hotéis, outros, em albergues. Ainda há os que acampam. Cada um escolhe uma maneira de percorrer o mundo.
   Entre as opções, estão a de ser um viajante ou de ser um turista. A primeira vista, parece ser a mesma coisa. Porém, nem tudo mundo que é turista é viajante. Mas, todo viajante é um pouco de turista.

O turista

   Quando falo de turista, estou me referindo àquela pessoa que compra um pacote de viagem de um agência de turismo. Também incluo neste conceito as pessoas que passam apenas alguns dias em outro lugar. Mesmo que se demore mais, é sempre bem planejado e com objetivo de lazer. 
   O turista é um privilegiado. Ele tem condições financeiras e tempo para viajar tranquilamente. Sua intenção é apenas o lazer. Quer se divertir, tirar fotos, ver coisas novas, matar a curiosidade. Ele vai para uma cidade distante e visita os pontos turísticos mais conhecidos. Vai para os restaurantes mais comentados. Está acompanhado sempre dos amigos ou colegas. 
   Sua convivência com os nativos é muito pequena. Ela é reduzida a tratamentos de educação, como um "bom dia" e prestação de serviços. Não há criação de fortes vínculos, pois, afinal, seria necessário muito tempo para desenvolvê-los.
   O turista quer fotografar. Precisa guardar no álbum aquele momento. O local que está visitando não passa, em outras palavras, de um plano de fundo para ele. É como uma bela proteção de tela de um monitor. 
   Falando em belo, é apenas isso que o turista vê: o belo. A cidade, para atraí-lo, se maquia para agradá-lo. Esconde as favelas, os buracos e o lixo. Tudo tem que ser perfeito, seguro e saudável. Qualquer defeito pode ser muito ruim para os negócios. Assim, muitos turistas só conhecem a sala de visitas dos lugares onde visita. Quando vê mais do que isso, já se desagrada.
   Um caso típico desse tipo de relação entre turistas e cidades pode ser encontrado nas grandes cidades litorâneas. A região da orla marítima costuma ser bem zelada, com muita segurança e iluminação. Eventos são programados constantemente nesses pontos, dando a impressão de centro cultural e ambiente elegante.
   Esconde-se, porém, tudo que se habita a mais de 5 km da praia. Em alguns casos, até partes da orla são escondidas, pois nelas se habitam aqueles que devem ser esquecidos: os pobres e as favelas. Tudo tem que ser perfeito e seguir o script fornecido pelas agências de turismo. Em outras palavras, o mundo é perfeito para o turista.
   O turismo é um dos ramos mais lucrativos do sistema capitalista. Ele conseguiu transformar a natureza e as culturas exóticas em mercadoria. Tudo tem seu preço. Para agradar os turistas, prepara-se um cenário teatral que o leva a crer que esta vivenciando o local em sua plenitude e realidade.

O viajante

   Ele tem outros objetivos ao se deslocar para outras regiões. Primeiro, não pretende ficar pouco tempo. Se for de passagem, é porque o alvo nele é outro lugar. Segundo, ele pretende vivenciar o ambiente. Sentir a cidade, a floresta, a praia, o sertão.
   O viajante deseja conhecer o novo. Quer visitar novas culturas. Pretende aprender maneiras diferentes de comer, de vestir e se portar. Sua viagem é mais do que um desejo de curiosidade. É uma vontade de entender a si mesmo e aos outros.
   De fato, quando ele viaja, descobre mais do que culturas diferentes, ele passa a enxergar melhor a si mesmo. É vendo o diferente que ele compreende o que ele mesmo é. Assim, visitar povoados, favelas, comunidades, é um prazer para sua viagem.
   Ele quer entender como as pessoas realmente são naquele lugar. Para isso, necessita de tempo. Talvez se fixe na cidade ou no povoado. Alugue ou compre uma casa. Consiga um emprego temporário. Ou, use os recursos que guardou para aproveitar mais tempo naquela região.
   O viajante sabe que para criar vínculos, requer tempo e paciência. Aos poucos, ele vai quebrando as barreiras das diferenças culturais e históricas, passando de um mero observador distante, a um analisador ativo. 
  Ele quer aprender a cozinhar os pratos típicos. Procura entender a rotina das pessoas. Deseja gastar horas a fio meditando numa cacheira. Quer sentir o cheiro do mato verde ou daquelas tardes tranquilas nas praças. Sorri com as dificuldades. Sabe que elas fazem parte de sua viagem.
   Portanto, ser viajante é ser um observador atento. É mais do que apenas fotografar e sair. É respeitar a cultura local, compreendê-la melhor. E, ao encontrar o novo, conseguir descobrir a si mesmo.

O que somos?

   Será que somos um viajante ou um turista? Qual lhe agrada mais? Talvez, muitos de nós desejaríamos vivenciar mais determinados lugares. Porém, tempo e dinheiro são barreiras difíceis de se derrotar. Ainda assim, podemos deixar de ser meros turistas, que vê tudo como mercadoria, e sermos viajantes, entendendo que existir é ser mais do que apenas eu, é ser os outros também.


De Alexandre Valério Ferreira



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